A visão empreendedora e humanista de Manuel Eduardo Vieira
A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.
No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano (“the American dream”).
Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades extraordinárias de trabalho e mérito e resiliência, destaca-se o percurso inspirador do comendador Manuel Eduardo Vieira. Natural da Silveira, povoado da ilha do Pico, arquipélago dos Açores, Manuel Eduardo Vieira antes de se fixar na América, emigrou em 1962, no início do deflagrar da Guerra do Ultramar, para o Rio de Janeiro. A estadia no Brasil, que durou cerca de uma década, serviu de trampolim para um percurso de self-made man que encetou no começo dos anos 70 no estado norte-americano da Califórnia.
Com uma trajetória de notável mérito e trabalho hercúleo, tornou-se, a partir do Vale de São Joaquim, através da sua empresa A.V. Thomas Produce no maior produtor de batata-doce biológica do mundo. Contexto que, levou inclusive, na década de 90 a cadeia de supermercados Safeway a oferecer a Manuel Eduardo Vieira uma placa de matrícula personalizada com as palavras King Yam “Rei da Batata-Doce”.
O empreendedor luso-americano, que tem mantido um constate apego ao seu torrão natal através de um extraordinário sentimento filantropo, plasmado na decisão, em 2017, da Câmara Municipal das Lajes do Pico em homenageá-lo com uma estátua na praceta do Centro Social da Silveira, tem sido uma figura muito requisitada pelos órgãos de informação nacionais para abordar as cada vez mais próximas eleições americanas de 5 de novembro.
Uma das figuras mais gradas da imensa comunidade portuguesa na Califórnia, latitude da diáspora onde se encontra radicado há meio século, quer na entrevista concedida à CNN Portugal, no início de setembro, como na mais recente facultada à Agência Lusa, o conhecido emigrante açoriano tem sido um genuíno arauto do papel relevante no passado, presente e futuro da comunidade lusa nos EUA.
Num período desafiante e complexo, em que é notória a polarização do eleitorado norte-americano, revelador da profunda divisão que perpassa a sociedade da principal potência mundial. E cujos resultados terão enormes reflexos políticos, económicos e sociais na América, e no mundo globalizado, a voz civilizada, serena e portadora de esperança do comendador Manuel Eduardo Vieira tem sido um lenitivo perante as incertezas no horizonte.
Um dos aspetos mais relevantes das suas intervenções públicas, são indubitavelmente as melhores condições que defende para os imigrantes, assim como a ideia de legalização dos ilegais que já estão na América, trabalham, pagam impostos e têm famílias. Com cerca de 1.500 pessoas a trabalharem na sua fábrica, maioritariamente imigrantes, a visão pragmática e humanista do emigrante picoense, testemunha o papel crucial dos imigrantes na força laboral nos EUA.
Ao contrário dos crescentes discursos anti-imigração que campeiam em várias nações, como é o caso dos Estados Unidos, cujos pilares, ironicamente construídos ao longo da sua história pela dinâmica da imigração são agora arremetidos por tentações cada vez maiores de construção de barreiras fronteiriças e ideológicas. O entendimento do empresário benemérito sobre o impacto positivo do fluxo migratório na demografia e na economia norte-americana, assente em bases de integração, responsabilidade e solidariedade, realenta a expressão queirosiana “força civilizadora”.
Um dos mais destacados empresários da diáspora, as recentes intervenções públicas do comendador Manuel Eduardo Vieira em órgãos de informação de referência no panorama nacional, não deixam de ser igualmente um sinal de reconhecimento e valorização das várias gerações de compatriotas que, por razões muito diversas, saíram de Portugal, e têm dado um contributo fundamental no desenvolvimento das pátrias de acolhimento e de origem.
Um sinal de reconhecimento e valorização dos emigrantes portugueses, os mais genuínos embaixadores da nação, que partiram e se instalaram pelo mundo, merecedores de toda a consideração e respeito. Como é o caso paradigmático do comendador Manuel Eduardo Vieira, um paladino da portugalidade na Costa Oeste dos Estados Unidos da América.
Daniel Bastos