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A relatividade do frio

Desde miúda, sempre ouvi as expressões “O frio é relativo” ou “ O frio é psicológico”. Talvez por não ter sido boa aluna nem a física nem a psicologia, achei sempre que, estes ditos populares eram completamente descontextualizados e que seria uma forma tola de não pensar em frio. Eu sempre senti frio, mesmo frio, mesmo quando os termómetros registravam uns míseros 10 a 12 graus Celsius positivos. Nesta altura, numa manhã suave de inverno, o metro deambula entre estações. Algumas mais compostas, outras mais vazias de rostos. Uma coisa é comum a quase todas: As pessoas que dormitam, deitadas nos bancos, tentando recuperar o calor que a noite roubou. Não há estação que não sirva de abrigo. Não há canto que não seja ocupado por um corpo, sem incomodar ninguém, algumas das vezes acompanhado por um prato de comida ou um café quente, que uma alma caridosa fez questão de partilhar. Hoje a temperatura está na casa dos 15 graus negativos, vá 20, se tivermos em conta a sensação térmica. A esta hora, em que deambulo pelo metro, estou bem agasalhada entre gorro, luvas, cachecol, casaco e botas térmicas. Eu não me posso queixar pois vivo numa casa acolhedora, trabalho num sítio acolhedor e passo cerca de 10 a 15 minutos na rua, entre as deslocações entre autocarros e metros. Mesmo que as minhas mãos e a ponta do nariz fiquem vermelhas e deixe de sentir estas partes do corpo por alguns instantes, sei que vai ser temporário. A respiração torna-se mais lenta e a mente sabe que o conforto estará próximo e, por isso, não consigo ter frio. Por mais que esteja temperaturas negativas, não sinto frio. É muito complicado de descrever mas o meu corpo habituou-se ao ar frio e seco da região. Talvez por saber que há sempre refúgio, ou por se conformar quando vê que há quem esteja em situações menos desfavoráveis. Muitos que contam com aquelas estações para sobreviver um dia inteiro de frio e não somente 10 a 15 minutos. E, no final das contas, o frio pode ser relativo ou psicológico. Relativo para quem o sente e psicológico para quem o vê.

in “Deambulando pelo metro”

LCP

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