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A Língua, a Integração e as Festas de Chá

O sítio internet do Camões IP notícia que “a língua portuguesa passa a integrar o sistema de ensino público do Luxemburgo”. Ao fim de 50 anos de imigração “oficial” no Grão-Ducado e sendo que uma sexta parte da população aqui residente tem nacionalidade portuguesa o Português chega finalmente ao ensino público Luxemburguês.

Num país em que o Português é a 2ª língua mais falada no agregado familiar dos alunos do sistema de ensino Luxemburguês esta é de facto um momento de viragem. De lembrar que, de acordo com o Bildungsbericht (Relatório da Educação) 2015, o Luxemburguês é a língua mais utilizada em 45% dos agregados familiares seguida pelo Português com 27,3%. Todas as outras línguas, incluindo o Francês e o Alemão, somam um total de 27,7%. Assim, o Luxemburguês, a língua da nacionalidade, é falada por menos de metade dos agregados familiares com crianças em idade escolar.

Apesar desta realidade linguística o sistema ensino luxemburguês, como referido, só agora contempla o Português como língua estrangeira. A percentagem de lares em que se utiliza o Português como língua veicular representa quase o dobro da população portuguesa – teremos aqui que adicionar os agregados familiares originários dos demais países de língua oficial portuguesa, que não serão nunca 10%. Assim, há uma maior percentagem de estudantes que de residentes a utilizar a língua de Camões podemos supor que o processo de integração não avança, antes pelo contrário regride com a consolidação de um gueto linguístico.

Mas voltemos à École Europeene de Differdange – EIDD. Esta escola iniciará a sua actividade no próximo ano lectivo. Com perto de 90.000 alunos no sistema de ensino não superior Luxemburguês a EIDD irá acolher, quando a pleno vapor, 1800 alunos – cerca de 1,5% da população escolar do Grão-Ducado. Claro que, como diz o povo, Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas como até ver a EIDD aparenta vir a ser um acto isolado esta solução peca largamente por tardia e manifestamente insuficiente.

Quanto ao que toca à comunidade portuguesa. Este acontecimento está longe de ser uma boa nova. Os alunos de origem portuguesa constituem a segunda maior comunidade. De qualquer forma esta oferta não é dirigida à nossa comunidade. Como anuncia o sítio internet do Governo Luxemburguês os motivos que levam à criação desta escola não são a integração das comunidades de imigrantes mas sim a preocupação com os quadros do crescente número de empresas internacionais na região sul e da Universidade do Luxemburgo que “se mudou” para Belvaux.

O público-alvo desta escola são nitidamente os filhos dos quadros intermédios estrangeiro da Universidade do Luxemburgo e das empresas referidas pela fonte governamental. Até porque para os quadros superiores, com maior poder de compra, o problema está resolvido por alguma da oferta privada existente.

O Governo Luxemburguês continua assim a preterir as comunidades de trabalhadores de menores recursos económicos que escolheram radicar-se no Luxemburgo em prol duma diminuta percentagem móvel. Enquanto que neste novo modelo proposto a língua de Dicks será ensinada como língua estrangeira, as comunidades de imigrantes continuarão a ser tratadas como tendo o idioma por natural. A língua, elemento que a comunidade autóctone considera como fundamental para a integração, incluindo para a aquisição de direitos políticos, é tão só para ser ensinada a um leque de classes privilegiadas. Prova derradeira disso é o argumento de que “é melhor para uma integração laboral” para consubstanciar a escolha de ensinar o francês aos recém-chegados refugiados.

No Luxemburgo temos uma cada vez maior percentagem de trabalhadores, que pagam os seus impostos com a regularidade de todos os outros, à qual é negado o direito de participação política. Pegando no exemplo e no mote – “no taxation without representation” – que nos trás a história Americana nos idos de 1773, esperemos que seja encontrada uma solução para integração, necessariamente também linguística, antes que uma Festa do Chá por cá se produza.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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