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A ilusão do normal 

A realidade da pandemia que atravessamos deixou há algum tempo de ser novidade, tornando-se companheira de jornada nas nossas vidas. Todos os processos iniciais de dúvida ou espanto do que estava a acontecer ao nosso redor foram-se dissipando com o decorrer dos dias, dando lugar a uma aceitação de estado de alerta, ou melhor dizendo, de estado de emergência regular.

A questão que trago a este artigo para que possamos refletir e interiorizar, que faz parte do nosso crescimento, é a vontade de voltarmos ao “normal”.

O normal: uma necessidade inerente ao ser humano, pois somos animais de hábitos e rotinas. Mas será que existe um normal? Sou da opinião de que este estado nada mais nada menos é do que um desejo utópico impossível de atingir, pois nada é constante, tudo está em mudança permanente.

É baseando-me nesta ideia que inicio a minha mensagem como terapeuta holística. A ideia do “voltar ao normal” é uma impossibilidade, um desejo baseado na negação da realidade que em nada ajuda a nossa vida e, pelo contrário, traz uma sensação assoberbante de ansiedade e foco nas coisas que não podemos mudar.

O desafio que vos coloco é o seguinte: imaginem uma viagem que fizeram. Recuem a essa memória e recordem como eram antes da viagem e como regressaram dela. Poderei ainda ser mais ambiciosa e sugerir que recordem como se sentiam antes de ler um livro, um romance com uma história cheia de enredos, e como se sentiram no fim desse livro.

Claro está que nestes termos a resposta é clara, nenhum de nós é o mesmo quando termina a viagem ou a leitura do livro. Queremos acreditar que não mudamos, mas mudamos sim, em vários aspetos, adquirindo todas as experiências que o processo nos proporcionou.

É nesta ideia que vos levo a refletir, ao fim deste tempo de pandemia, que ainda não findou: estaremos iguais? Dá para regressar ao normal?

Para mim a resposta é transparente: claro que não. Todos estamos diferentes. Devemos então aceitar o nosso novo normal, relaxar da ansiedade que o tentar voltar atrás no tempo nos proporciona e simplesmente criar um novo status quo.

Acredito que as consequências e as mudanças causadas na sociedade por esta pandemia só serão visíveis mais à frente.  Tal como quando fazemos uma viagem, ao longo da mesma estamos apenas a observar e a interiorizar e só no final desta faremos a sua análise. Só no fim conseguimos responder à pergunta “O que mudou em mim? Que pessoa sou agora?”.

Só rejeitando a negação e aceitando a realidade podemos continuar a nossa caminhada com olhos que fitam a esperança, o futuro e a paixão de viver. Não caiam na ilusão de esperar que tudo regresse ao “normal”, mas sim abram as portas para o vosso novo “eu”.

Cristina Gomes

Lado Violeta 

+351926822307

 

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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