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A conquista de um primeiro voo

Ora bem, hoje trago-vos um assunto mais pessoal na primeira pessoa. Já vos falei dos medos irracionais e da prisão que isso implica. Estes medos estão intimamente ligados aos nossos pensamentos negativos e crescem proporcionalmente a estes. É benéfico ter medo, faz-nos estar alerta assim como é tão bom e vital  pensar. Mas em muitos casos o que acontece é uma avalanche de pensamentos negativos que subitamente se vão ancorar ao medo e de repente somos atingidos por um pânico desmedido e limitante. Sendo mais específica no meu caso era a condução.

Diz-se que quem tem fobia a andar de carro sofre de Amaxofobia. Hoje prefiro dizer que fui derrubada por uma enorme avalanche da minha autoria e que simultaneamente sofri de uma doença e praga não assim tão rara chamada de pensamentos catastróficos agudos (calma, acabei agora mesmo de inventar este nome para o meu mal). Então e quais são os sintomas? São todos os “se” que nos envolvem e  nos fazem parecer umas autênticas múmias egípcias! Tem cura? Não imediata mas claro que tem. Nós mandamos na nossa cabeça e apesar de esta ser toda a vida uma autêntica adolescente rebelde e problemática nós é que temos a última palavra nela e no que nela é produzido e projetado.

A mim disseram-me muitas vezes : “a terapia passa por exposição, pouco a pouco pegar no carro completamente sozinha e cada dia ir um bocadinho mais longe”. Óbvio que o meu diabinho cá dentro se antecipou e sem me deixar sequer processar esta informação e conselho gritou tão alto que não sei como ninguém ouviu a não ser eu (eu ia ficando surda!) : “Tu não vais ser capaz! Já viste se o carro descai? E se tu bloqueias e não consegues sair do sítio? Olha que conduzir no Porto é o fim do Mundo! As pessoas vão buzinar-te e tu vais deixar o carro ir abaixo, vais entrar em pânico e vais ter de chamar alguém. Aceita simplesmente que não foste feita para conduzir”. Eu fui ouvindo, ouvindo, ouvindo, um dia, mais um dia, mais um ano até que sem pensar muito no assunto descobri que era eu que tinha o controlo neste diabinho tão maléfico, podia baixar-lhe o tom ou tão simplesmente cala-lo. Peguei em todas as amarras que ele me foi atirando e entreguei-lhas.

Hoje, ainda com algum receio, aquele que faz sempre falta à responsabilidade e à vida adulta sinto-me como um passarinho acabado de perceber que tem asas para voar e que pode ir tão longe quanto ele quiser, nem o céu é o limite.

Inês Araújo

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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