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A balsa da Medusa

A “Balsa da Medusa” é uma das mais notáveis obras de Théodore Géricault, pintor francês do Romantismo, fortemente influenciado por Michelangelo e Caravaggio. Executada entre 1818 e 1819, esta monumental tela (4,91 m por 7,16 m) conta a história trágica de uma fragata francesa (La Méduse) que encalhou em Julho de 1816 na costa da Mauritânia. Das 400 pessoas a bordo, as barcaças de apoio só permitiam acomodar cerca de 250, o que obrigou as 147 restantes (entre passageiros e tripulantes) a atirar-se ao mar para tentar salvar as suas vidas. Para o efeito, foi improvisada uma jangada, que deveria ser puxada pelos restantes barcos, mas que rapidamente se soltou, deixando-os entregues à sua sorte, com escassas provisões. Apenas quinze conseguiriam sobreviver, sendo que cinco delas morreram mal chegaram a Saint-Louis, no Senegal, após uma operação de salvamento que chegou tarde demais para uma centena e meia de almas. Durante duas semanas, estas pessoas agarraram-se a essa jangada como a única esperança de vida. A conhecida balsa da Medusa.

O caso seria o de mais um naufrágio se não contasse uma história de desespero, de miséria e de canibalismo. Homens agarrados a um pedaço de madeira, uma balsa, um fundo chato e plano que serviu de cama, de mesa, de morte, de lugar onde se guarda a carne. No entanto, esta história também nos dá lições. Uma delas é que nunca deixes que um incompetente dirija o teu destino e o dos outros. O capitão da fragata, o visconde De Chaumereys, nomeado para o cargo apesar da sua escassa experiência de navegação, na ânsia de ser o primeiro a chegar, encurtou caminho e desviou-se da rota, no desejo de agradar ao recém-chegado poder político. Outra lição é que nunca queiras meter num dedal o que foi feito para ser guardado numa barragem.

Nem de propósito se chamaria a fragata de “Medusa”. Criatura temida, com serpentes em vez de cabelo, com garras de bronze e asas de ouro. O seu poder é o pior de todos: petrifica com o olhar. Todavia, Medusa não foi sempre este monstro aterrador e cruel. A sua beleza é inequívoca, mesmo quando transfigurada em mal mortal. Ela foi castigada no passado por outra mulher, Atena, que lhe deformou o corpo, mas não a inteligência. Medusa representa o que de mais irascível existe entre duas mulheres: a inveja. Medusa pagou pelos seus pecados e acabou com a cabeça decepada e Atena, eternamente em guerra, nunca conheceu o amor. Nunca deixes que a inveja cegue a tua alma. Ficarás petrificado ao longo do caminho e nunca conhecerás a paz.

A balsa da Medusa é toda ela um aviso a quem anda demasiado depressa e desvia-se do caminho. Com falta de alimentos e de água, só lhes restava seis barris de vinho, o que de pouco serviu a homens famintos. Isto significa que a embriaguez e a ilusão não nos salvam. O que nos faz quem somos é a solidez da acção pensada.

Dos 15 homens vivos na balsa, houve relatos de assassinatos, gente jogada borda fora e casos de suicídio. O canibalismo foi a perda total da dignidade e da esperança nos homens. O EGOísmo, a degradação, o perigo, a subversão e a perversão anunciam a deriva e a cobardia dos gestos daqueles que nos deviam proteger. Quando te disserem “Estamos todos no mesmo barco”, desconfia. Na verdade, 203 anos depois, “estamos todos na balsa da Medusa” (JUPE. A. 2012).

 

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