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Impotente

Hoje, nas aulas com as minhas alunas e alunos não me saía da cabeça as imagens das caras sorridentes das crianças e das professoras Eva Mireles e Irma Garcia de Uvaldes (Texas). Não sei como sentem os outros professores. Para mim as minhas alunas e alunos são de certa forma como filhas e filhos, até porque têm a idade do meu mais velho. Quando estão na minha sala tenho o dever de os proteger (até fora, mas isso é outra conversa). E nem posso imaginar o que será com crianças pequenas como estas de uma escola primária.

Há uns meses, fizemos um exercício de simulação de intrusão de um indivíduo armado, sobretudo por causa do medo de um ato terrorista. Detestei a ideia. Obrigar os miúdos a pensar num ataque, na violência extrema, fazer de conta que… Que raio de mundo lhes estamos a oferecer. Miúda, o meu medo era o de um sismo, era para essa eventualidade que fazíamos exercícios de simulação na primária em Lisboa. Nós face à Natureza. Agora é nós face a nós próprios, à natureza humana.

Há algumas semanas, soou o alarme de confinamento nas salas, haveria dois indivíduos com armas dentro do liceu. Afinal, eram “só” alunos com uma arma fictícia para “brincar”. Eu não estava no liceu. Alguns colegas ouviram o alarme, outros não e continuaram as aulas como se nada fosse. Os alunos que ouviram estavam em pânico e alguns choravam com medo, e outros receberam mensagens daqueles que sabiam e assustaram-se também. Para os meus colegas foi complicado, a simulação não é evidentemente a mesma coisa que a realidade. A verdade é que nada nos pode preparar de facto para isto. A proposta de armar professores só podia mesmo vir daquelas cabecinhas conservadoras que se dizem “pela vida” e, nos entretantos, nada muda depois de tantos ataques a escolas naquele país.

As armas de fogo são agora a principal causa de mortalidade das crianças americanas. 4357 crianças mortas em 2020 por armas de fogo, mais 30% do que em 2019, dois terços por homicídio, um terço por suicídio, o contrário dos adultos. Isto não é um país “desenvolvido”. Não pode ser. E se assim é considerado, os critérios estão de certeza errados.

Pensamento triste e impotente pelas crianças, professoras e as famílias.

Luísa Semedo

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