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Voluntários salvaram casas degradadas de Óbidos

Quarenta voluntários de todo o país chegaram a Óbidos há dez dias com a missão de reabilitar casas degradadas e partiram esta quinta com a certeza de terem ajudado “a mudar vidas”.

A frequentar cursos superiores de engenharia, gestão, direito design, medicina dentária, secretariado ou arquitetura, os estudantes meteram mãos à obra e, desde o dia 15 de agosto, recuperaram cinco casas degradadas escolhidas para integrar o programa “Portugal Rural”, da associação Just a Change.

O “programa intensivo de reabilitação em zonas rurais” passa, segundo o diretor da associação, António Belo, “por envolver os moradores e interagir”, com os voluntários a darem algo de si.

O lema “reabilitar casas e reconstruir vidas” norteou, durante os dez dias, os jovens que “deram duro” para mudar telhados em casas onde chovia, construir casas de banho, instalações de luz elétrica e canalização de água, instalar soalho, rebocar e pintar as paredes de cinco agregados em quatro freguesias.

Para António Belo, porém, “mais importante que levantar uma parede é a pessoa que ali habita”, o que justifica que voluntários tenham feito mais.

Conceição Quina, estudante de enfermagem, liderou a equipa à qual coube recuperar a casa de um homem “muito reservado”, a viver em situação de “isolamento extremo” e que, “aos poucos, se foi abrindo”. Não muito, mas o suficiente para que a voluntária tenha conseguido encontrar-lhe um familiar que acabou por “colaborar na obra” e reatar as relações cortadas há anos com o idoso.

Já Marta Coimbra, estudante de medicina veterinária, teimou que haveria de tentar curar-lhe um gato, doente, subnutrido e o mais fraco de “uma ninhada adotada por uma cadela” e que em breve terá nova família, constituída por dois irmãos, órfãos, cuja casa está a ser recuperada por outra equipa de voluntários.

O projeto, que se faz de cumplicidades e reservas de identidade para “não estigmatizar” ninguém, vai deixar marcas profundas na casa de um casal, com um filho menor, onde nunca tinham entrado “nem escovas, nem pastas de dentes”, diz António Delgado, finalista do curso de Medicina Dentária.

O caso, “chocante”, que já destruiu a dentição dos pais e gerou no filho “um problema grave de saúde oral”, levou o futuro médico a “fazer registos fotográficos”, enviados para “um fórum de dentistas” no qual pediu ajuda para que, a partir de setembro, a criança seja seguida por clínicos da faculdade.

O voluntarismo de António irá para além do programa, prontificando-se a assegurar o transporte para as consultas em Lisboa e, depois de formado, seguir a criança que será o seu “primeiro caso clínico complicado”. Antes de partir, deixa a casa de banho da casa equipada com “escovas de dentes, pastas e outros produtos de higiene pessoal e para a casa”, custeados por toda a equipa.

Exemplos que levam Luís Sousa, de 46 anos, a admitir em lágrimas que outra equipa, a que lhe recuperou a casa onde vivia sozinho e sem condições, “deixará muitas saudades” e a motivação para “nunca mais deixar as coisas chegarem ao estado em que estavam”.

No concelho, onde o espírito de voluntariado contagiou as juntas de freguesia, que colaboraram com máquinas e logística, ou o padeiro, que “ofereceu sempre o pão para os pequenos-almoços”, a Câmara Municipal garante, também, através do vereador da ação social, José Pereira, que “estes casos vão continuar a ser acompanhados”.

Associação e autarquia pretendem repetir, no próximo ano, o protocolo no valor de dez mil euros, que permitiu a recuperação das casas. Até lá, assegura António Belo, “alguns voluntários vão voltar, para ver como estão as pessoas que agora se vão ressentir um bocadinho por perderem a animação e companhia que tiveram nestes dias”.

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