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Vocação

A comunicação social portuguesa tem amplamente divulgado nos últimos dias imagens revoltantes junto ao Estádio D. Afonso Henriques, no final de um jogo de futebol entre o Benfica e o Vitória de Guimarães: um cidadão acompanhado de dois filhos menores é selvaticamente espancado à bastonada (inclusive com cassetete metálico) por um agente da Polícia de Segurança Pública; um idoso que provocava acudir à vítima, presumivelmente seu pai, é repelido a murro pelo descontrolado agente; um outro agente afasta o mais novo dos filhos do agredido, com 9 anos de idade, presumivelmente para o poupar à traumatizante visão.

Imagens que envergonham qualquer sociedade civilizada e que estão a dar a volta ao mundo, através de cadeias de televisão da Europa, dos Estados Unidos, do Brasil, destacando-se a rubrica «No Comment» («Sem Comentários») que, de meia em meia hora, precede os serviços noticiosos da Euronews.

Sendo a polícia, por definição, uma instituição destinada a defender a lei e a ordem, escapou-me durante muito tempo a razão por que tantos cidadãos (eu próprio incluído) tinham «litígios» (chamemos-lhes assim, por comodidade de linguagem) com agentes policiais.

Um dia, finalmente, compreendi: é que os agentes da polícia, ou melhor, uma parte substancial deles, não são necessariamente agentes da lei e da ordem.

Em qualquer atividade profissional, a vocação é importante para um bom desempenho (por exemplo, nunca será um bom arquiteto aquele que não goste da atividade de arquitetura). Mas há umas poucas profissões nas quais a vocação, mais do que importante, é fundamental — e isso porque um mau desempenho pode ter repercussões drásticas em terceiros. São elas a de médico, a de professor e a de agente da autoridade. As obras de um mau arquiteto ficam à vista, as de um mau médico são enterradas. E um mau desempenho na atividade docente pode resultar em futuros adultos pessimamente preparados do ponto de vista académico e cívico.

Quanto à polícia, infelizmente abundam nela também os casos de vocação errada. São indivíduos de má índole que se alistam nas forças policiais ora porque lhes parece uma via fácil (leia-se: intelectualmente pouco exigente) para ingressar no mercado de trabalho, ora porque lhes parece um meio excelente de saciarem no cidadão comum o seu gosto pela subjugação, pela humilhação, pelo exercício da prepotência supostamente legalizada: bater, injuriar e agredir à vontade, para mais com o sumamente deleitoso (ainda que ilusório) respaldo da lei.

Bem sei que os detalhes do caso de Guimarães estão por aclarar. Mas, da parte da hierarquia policial, havia um gesto que, de imediato, se imporia: a suspensão de um pseudoprofissional capaz de praticar atos de violência desmedida, um autêntico energúmeno manifestamente destituído da disciplina psicológica e do autodomínio mínimos para o exercício das funções de agente da lei e da ordem.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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