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Vem comigo

A banda original sonora da minha vida está riscada
passo como um fantasma por ela
como se apenas a assombrasse
como se apenas tivesse dela o ténue e translúcido retrato
que deixam os dedos suados numa vidraça
entre dois mundos indistintos.
Turista de universos paralelos
passageiro da vida
como se observasse tudo de outro lugar.

Devolveram-me o rascunho.
Desenha outro!, ordenaram-me.
Mas eu fiz birra, disse que já não queria, era o que faltava! Desatei aos pontapés com a vida
e com um revés de mão violento
varri do estirador a minha dor
e todos os meus papéis certinhos
misturei o passado ao futuro
porque já não tenho, não estou, nem sou presente.

Tinha saudades do que podia ser
procurava incansavelmente o círculo que não existe.
Tudo é apenas alucinação, vertigem
e eu caí na espiral, na miragem.
Preciso escapar de mim mesmo
para sair ileso daqui.
A vida é um caminho
que não vai dar a lugar nenhum,
mas tu gostas de pensar que sim,
porque é isso que te faz correr,
pular, dançar, amar, dar cambalhotas no lençol.

O nosso encontro não foi por acaso.
Acredito que tens de me dar a tua mão.
Eu também estou perdido,
mas juntos vamos conseguir sair daqui,
ou pelo menos não nos vamos perder em nós.
Não olhes para trás, já lá nos fizeram demasiado mal.
Eu sei que tens medo, agarra-te bem a mim.
O nosso encontro não foi por acaso.
Há um caminho que conduz a qualquer lado
não sei bem onde, mas não podemos ficar aqui.

Despe-te!, ouve o que eu te digo.
Retira os trapos que os outros te vestiram
e apontaram e disseram que eras tu.
Eu quero-te só a ti e tu não és assim!

Diante dos teus espelhos tens de estar nua.
Olha para mim, pensas que acredito na perfeição?
Procuro apenas a sinceridade do coração,
uma alma sem anemia, um peito que não teme entregar-se.

Quanto menos sentido o mundo faz
mais procuro um sentido a tudo isto
um caminho que explique
o princípio e não o fim.

Não fiques para trás, já nada te espera aqui,
apenas cinzas do passado,
vestígios baços dos dias em que acreditámos,
estrume do que podia ter sido.

De que vale um futuro que não foi,
os sonhos prometidos,
arrancados como espinhos ao coração,
de que vale um beijo de amor
que já não significa nada?

Vem comigo! Descalça e nua, comigo, até ao fim deste trilho.
Não é um castigo, é uma oportunidade, tens de acreditar!
Não em mim! Mas em ti!
Este não é o teu fado, o teu destino escolhes tu!

Amor é ferida que não se sente
e que arde sem se ver?
Olha as minhas veias abertas,
achas que já não sangro?
Repara nas pontas queimadas dos meus dedos,
já brinquei demasiado com o fogo.
Eu sei que estamos perdidos,
mas para escaparmos daqui,
temos apenas de seguir em frente,
chega de bifurcações, de desvios,
não olhar mais para trás, mas para diante.

Vais passar quanto tempo aqui,
a contemplar as lágrimas e o sangue do nosso desengano? Não esperes a noite, que é escura e fria.
Se quiseres o meu abraço, não peço nada em troca,
apenas que venhas comigo.
Não sei por onde vou, mas sigo o instinto da luz,
a fragrância da manhã que há-de nascer,
com a promessa de um novo dia.
Caminha só um pouco comigo,
não me deixes sozinho neste caminho,
eu também tenho medo
do desconhecido.

JLC26082007

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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