A união faz a forca.
Sim, os erros pagam-se caros,
inclusive os ortopédicos e ortográficos.
Caríssimos, neste arquipélago beirante o pélago,
são muitos os que ganham à comissão.
Talvez esta aqui a explicação para muitas das vossas indagações.
Entretanto a prosperidade continua
a declinar todos os vossos pedidos de asilo.
Cheira a azedo; cheira efectivamente a azedo:
foi o sul do vosso sangue que azedou.
Não se esqueçam de colocar esta iguaria no cardápio.
Comiseração? Só a dos moribundos.
Democracia? Isso dá dinheiro?
Azul enegrecido, estrelinhas, entrelinhas. –
A tua bandeira é tão trapaceira,
União Europeia.
Começámos, e isto era para durar indefinidamente,
começámos como uma pomba de grande envergadura,
que levantou voo contra o vento, esplendorosamente.
Fomos uma pomba – mas a pomba foi sabotada, despenhou-se.
Agora somos um funeral, um alucinado funeral a desfilar pelas ruas – cadafalsos.
E no caixão vão os destroços da pomba, antiguidades, caminhos,
poemas preciosos, um rio e uma considerável porção de primavera.
A quase ausência de enlutados é impressionante.
Alguém devia denunciar esta tristeza.
A dívida é uma dádiva,
e o lema deles é a democracia não é para aqui chamada.
Além disso só aceitam euros.
É assim que eles controlam o sistema.
O sol quando nasce não é para tolos.
E o neoliberalismo?
O neoliberalismo engravata milionários
e estrangula milhares.
Eles comem famílias inteiras ao pequeno-almoço.
E a austeridade?
A austeridade é um rio em contramão.
Eis o orçamento do nosso estado.
[ – Falaste em tratados?
– Não, em tramados.
– Concordo; eles são todos uns tarados.
Limpam os beiços à dinheirada e pedem-te sacrifícios, os glutões.
Isto é de uma obscenidade magoante.]
Liga a televisão, estão a transmitir em directo
mais uma cimeira dos decapitadores.
Tenho a certeza de que o impossível encontrará
uma solução viável para a calamidade que se avizinha.
– Já avisaste a tua vizinha?
( –Tens os sapatos todos sujos.
– Foi a democracia.)
Por favor, não me venham com idealismos:
a utopia há muito foi pelo cano da pia abaixo.
O ideal teria sido arranjares uma estratégia de desobediência mais eficaz.
Mas agora já é tarde.
Um pomar arruinado.
A nossa extinção está em vias de ser considerada um dos maiores disparates da história.
Falta apenas ergueres um museu alusivo ao teu naufrágio.
Só mais um verso:
quando saírem não se esqueçam de fechar a porta.