Estávamos entre o intervalo de consultas. A minha colega novamente com dores. Nem sentada conseguia estar.
Nunca a vi alimentar-se bem. Sempre umas saladas avinagradas.
Muitas vezes, perguntava-me se com uma alimentação saudável aquelas intermináveis dores não passariam.
Fumava como uma chaminé. E não era só cigarros. Dizia que com umas passas as dores passavam.
Aquilo fazia-me imensa confusão. Desde os primeiros anos da licenciatura de psicologia aprendi que às vezes umas simples passas podem despoletar uma esquizofrenia.
E quando ouvia a minha colega falar daquelas passas, vinha-me sempre o diagnóstico da esquizofrenia. Saberia ela disso?
Um dia enchi-me de coragem e perguntei-lhe. Não sabia, mas dizia ela que preferia uma esquizofrenia às dores.
Achei a resposta um pouco impulsiva, mas quem sou eu para julgar. A dor é realmente algo que só a pessoa consegue julgar e é muitas vezes invisível.