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Uma velha história da nossa Beira

Rezar uns pelos outros, é recomendação bíblica, e o Apostolo recomendou, mormente pelos doentes; mas a oração só será eficaz, se o enfermo colaborar.

Gonçalo Fernandes Trancoso, conhecido escritor do século XVI, reconta em: “Histórias de Proveito e Exemplo” o antiquíssimo conto popular beirense.

Reza a tradição, que em determinado local, da nossa linda Província da Beira, havia piedoso eremita, que erguera, na crista de empinada serra, humilde casebre.

Perigoso salteador de estrada – talvez após séria reflexão, – avizinhou-se do eremita, para lhe pedir um favor, já que, segundo lhe disseram, falava com Deus:

– “Tu que falas com o Altíssimo, pede-Lhe, que me liberte desta ruim vida, em que ando, que não me dá sossego.

– “Se não me conceder essa graça, talvez venha a praticar o feio desatino de te matar! …”

Ficou o servo de Deus, aflito, temendo o temível sicário, que espalhava o terror em toda a região; e nas suas orações, rogava, fervorosamente, para que Deus o atendesse.

Mas, o ladrão e assassino, continuava sempre, na vida solta, que sempre levara. Como não sentisse coragem – embora a consciência o acusar, – para se emendar, pensou que o servo de Deus não fizera caso do seu pedido, apesar de constantes ameaças: gestos e palavras ofensivas.

Convencido que o eremita não apresentara a petição, a Deus, assentou concretizar as ameaças, já que as não levava a sério.

Uma manhã, ao romper do sol, aproximou-se, cautelosamente, com facalhão na mão, da humilde choupana.

O eremita, que estava de atalaia, apareceu-lhe de ar sereno:

– “Se vens matar-me, primeiro teremos que levantar a laje, que será colocada sobre a minha sepultura…”

Concordou o assassino; e foram suspender a pesada laje de granito, que conservava em casa.

Reparou o facínora que o servo de Deus puxava a pedra para baixo, enquanto ele a tentava levantar, e disse-lhe de mau modo:

– “Como posso levantá-la, se puxais para baixo!? …”

Ao que o eremita repostou, em voz macia:

– “ Compreendes agora, como nada é possível, quando cada um puxa para lado contrario?! …Nada adianta pedir a Deus, para que te tornes um homem honrado, se não te arrependeres, e desejares, do fundo do coração, afastar-te da má vida que levas?! …”

Se não houver vontade de emenda, de nada serve sermos religiosos.

O que nos salva, é o desejo, o esforço – mesmo infrutífero, – de sermos cada vez mais perfeitos.

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