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Uma ode a Jean-Paul Goude

Designer, fotógrafo e ilustrador, Jean-Paul Goude é autor de algumas das imagens mais icónicas que permanecem na memória visual do último meio século. Sempre admirei a sua arte e agora, por voltar à ribalta ao se tornar Director Criativo da marca Desigual, com uma campanha bem à sua imagem, resolvi revisitar este criativo artista.

Goude começou por ser um dançarino antes de ser um guru da imagem. Iniciou-se em Paris, a mando da sua mãe. No entanto, em Nova Iorque, ao estudar ballet com Robert Joffrey, este mentor disse-lhe que tal não era para ele, pois não tinha força física para se dedicar a dançar profissionalmente. E ele estava certo. Ciente das suas próprias limitações físicas, Goude começou a projectar as suas fantasias em corpos estranhos, de preferência os de mulheres negras, porque era uma admiração que tinha. Primeiro, atraindo-as para revistas como a “Esquire” e “Harper’s Bazaar” e, mais tarde, por sua conta e risco.

Sendo um ilustrador, ele gostava de contar histórias através das suas imagens. E o desenho, a fotografia, o coreografar um desfile ou desenvolver uma campanha publicitária ainda é o que o motiva desde meados dos anos setenta, quando as imagens poderosas de mulheres derrubaram a iconografia da época. Obras de forte carga erótica-sexual e racial como o instantâneo que aparece na sua famosa monografia “Jungle Fever” (1983) com a sua musa Grace Jones a executar um movimento de dança arabesca ou aquela outra imagem dela nua e enjaulada como um animal. Hoje, incomoda-o bastante o tipo de caça às bruxas em que nos instalámos, culpa da “maldita correcção política”.

Jean-Paul Goude afirma que não vê uma boa ideia criativa há muito tempo… pelo menos, não como as dele, em que fez do traseiro da sua primeira namorada, a modelo e actriz afro-americana Toukie Smith, uma bandeja para uma taça de champanhe (imagem que veio a recriar mais tarde com Kim Kardashian), ou que colocou Vanessa Paradis numa imitação de Tweety para um perfume da Chanel, em 1991, que fez esgotar todo o stock. E talvez ele tenha razão…

Tal como a personagem de um musical, Jean-Paul Goude passou sua vida à mercê do ritmo. Uma espécie de Gene Kelly da ilustração e da mise en scene , com movimentos vigorosos e coloridos. Ou o Bob Fosse da fotografia, coreógrafo experimental e provocador. Como o próprio afirma: “Eu só sei fazer duas coisas bem: dançar e desenhar”. Porém, ele sempre soube “dançar” com os mais bonitos: Radiah Frye, Farida Khelfa e Grace Jones, claro. Mas também Andy Warhol, Harold Hayes, Karl Lagerfeld ou Azzedine Alaïa. Recentemente, Goude retratou Rihanna para a edição francesa da Vogue.

Agora, o famoso designer francês, ilustrador, cineasta e fotógrafo, etc. e tal, está a colaborar com a marca espanhola para a coleção primavera-verão 2018. Nesta sua estreia para a Desigual, apresenta uma nova imagem, elevando a uma forma de arte a essência de streetstyle, com roupas que melhor traduzem o ADN da empresa e onde a diversidade cultural, não conformidade, originalidade e humor são os principais ingredientes.

Jean-Paul Goude, surpreendentemente, leva mais de trinta anos à frente de seu tempo através do desenho, design de cartazes, fotografia, cinema, vídeo e eventos: da revista “Esquire” ao desfile espectacular do bicentenário da Revolução Francesa, passando pelas suas magníficas obras com Grace Jones, Jean Paul Gautier ou Pharrell Williams, e colaborações para marcas como Lacoste, Kenzo, Chanel, Dior e Louis Vuitton, entre outras. Um verdadeiro “Homem da Renascença” do século XX e, agora, XXI.

Fiquem com algumas as suas criações…

 

 

 

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