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Londres e Genebra: uma cerveja artesanal que bolina à distância

Miguel Meneses é engenheiro civil e vive em Londres há um ano. Duarte Meneses é engenheiro eletrotécnico e vive em Genebra há 6 anos. Os dois são irmãos gémeos, tem 29 anos, emigraram e gerem (agora à distância) uma empresa portuguesa de cerveja artesanal. O BOM DIA foi descobrir a história por trás da Bolina.

Uma brincadeira

Miguel e Duarte começaram desde cedo a nutrir o gosto pela cerveja. As viagens que foram fazendo durante a época em que estavam na faculdade foram fundamentais para que os dois tivessem contacto com estilos muito diferentes de cerveja que em Portugal pouco havia.

“E a partir de então, eu e o Duarte decidimos começar a fazer cerveja em casa… isto foi quando tínhamos 21 anos e numa época em que a cerveja artesanal em Portugal era muito limitada. Havia duas ou três marcas a produzir e poucos estabelecimentos a disponibilizar cerveja artesanal. Existiam apenas duas lojas onde se podiam comprar ingredientes para a produção caseira. Nessa altura, eu e o meu irmão também encomendávamos (online) cervejas de todos os cantos do mundo e fomos ganhando o gosto, ainda sem ter em mente a hipótese de criar a nossa marca. Era tudo na brincadeira”, conta-nos Miguel.

Em 2011, após vários anos de “homebrewing”, a ideia de criar um produto e uma marca surgiu com a ajuda dos tios Álvaro e Camila Begonha e José Guilherme Costa (que viriam a tornar-se sócios da Bolina), coincidindo com a altura em que Duarte aceitou uma proposta para trabalhar na Suíça. Além de um investimento inicial de 150 mil euros, dar vida a este projeto implicou a definição de um plano de negócios e muita pesquisa sobre materiais, licenças, instalações, etc.

Passo a passo

“Entretanto investigámos onde poderíamos comprar as máquinas e arranjámos um espaço na Azambuja… foi um trabalho infindável”. Ao mesmo tempo que foram sendo feitas as obras no espaço onde hoje é a fábrica, Miguel foi pensando em como implementar um processo, até então feito em casa, adaptando-o a uma dimensão muito maior, o que “implicou estudar imenso durante dois anos, ao mesmo tempo que estava na universidade”.

Em 2013 nasce finalmente a Bolina (nome dado a uma técnica empregada por embarcações que consiste em ziguezaguear contra o vento, o que permite navegar por zonas onde o vento não é favorável; as primeiras embarcações que se têm notícia a utilizar esta técnica com sucesso são as caravelas portuguesas, durante a época dos Descobrimentos). A escolha do nome surgiu depois de um brainstorming em busca de algo que fosse muito português e que pudesse dar identidade e força a uma cerveja “sonhada e concebida de forma artesanal em Portugal”.

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E parece ter resultado. Desde cedo, esta cerveja, feita a partir de ingredientes de alta qualidade, sem a adição de corantes ou conservantes e produzidas através de um método de fabricação artesanal onde a cerveja não é filtrada nem pasteurizada, foi ganhando o seu espaço num mercado que apresentava, inicialmente, pouca oferta. Mas os tempos mudaram e a cerveja artesanal está em expansão em Portugal: “Cada vez mais, as pessoas apercebem-se da existência da cerveja artesanal. Os donos de bares, restaurantes, cafés, etc. querem ter novos produtos para os seus clientes. Tudo isso estimula o aparecimento de novas marcas e até se está a criar uma Associação de Cerveja Artesanal. O aparecimento de novos produtores com qualidade é muito positivo para o crescimento do setor em Portugal, e nós temos registado cada vez mais procura pelo nosso produto”.

Feedback positivo

O facto desta ser uma pequena empresa, além de muita liberdade criativa, estimula a proximidade com o cliente. E no teste do feedback, a Bolina parece passar com distinção. “Temos um contacto muito próximo com os clientes e tentamos sempre ouvir as críticas e aproveitar todas as sugestões para melhorar”. Logo em 2014, a Bolina ganhou destaque ao obter o primeiro lugar do Provart, uma prova cega de cervejas artesanais. Mais recentemente, um estudo da Proteste (publicado na revista da Deco) avaliou mais de 20 cervejas (artesanais e comerciais) e a Bolina obteve o rating máximo em conjunto com outras duas cervejas. “Ficámos à frente de cervejas industriais que, para muitas pessoas, seriam óbvios vencedores. Isso foi muito importante para nós e deu-nos mais confiança”.

Gerir a partir de Londres e Genebra

Neste momento a Bolina emprega três trabalhadores encarregues da produção a quem Miguel passou todos os conhecimentos necessários para que tudo corra sem problemas. Todo o restante trabalho é dividido pelos  sócios. Mesmo à distância, os dois irmãos mantêm um papel extremamente ativo na busca pelo sucesso deste projeto: “Nós temos um sistema online com todos os passos da produção que eu observo diariamente, defino instruções que devem ser seguidas na fábrica, faço o acompanhamento técnico do processo e crio as novas fórmulas sempre que lançamos um novo produto. O Duarte ajuda neste processo e anda sempre em busca de novas ideias.” O contacto com os clientes, as vendas, a contabilidade e a gestão física da fábrica estão agora a cargo dos outros sócios.

Atualmente Miguel viaja para Lisboa uma vez por mês para dar resposta a algumas necessidades mais específicas e para estar em contacto com os clientes que “gostam sempre de saber mais e conhecer quem faz o produto que eles compram”.

E o facto de os dois irmãos se encontrarem a viver fora de Portugal parece até ter pontos positivos: “Estar cá fora dá-nos muitas ideias e inspiração. Portugal é um mercado que está a crescer mas que ainda é precoce, ainda há muita margem para explorar e muitas ideias para novas cervejas”.

Horizonte: expansão

Até meio de 2015, a empresa concentrou esforços na fase de consolidação de todo o processo, mas agora há outros planos que passam pelo crescimento através da criação de novas cervejas, aposta no marketing e comunicação da marca. Além disso, a empresa aumentou a sua capacidade de produção recentemente e neste momento produz cerca de 5 mil litros por mês. “Estamos em processo de renovação de toda a imagem da Bolina: vamos ter um novo site, já temos novos rótulos, vamos ter várias series temáticas, novos lançamentos, novas ideias… e com isso queremos fortalecer a marca e, claro, começar a levar a cerveja para fora de Portugal, se possível já no próximo ano”, explicou o jovem empresário.

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A Bolina produz oito tipos de cervejas que são vendidas tanto em garrafa como em barril:

– Weiss
– Stout
– Pilsner
– Blonde Ale
– IPA
– Nelson Sauvin (IPA)
– Witbier
– Double India Pale Lager

Os preços de venda variam consoante o local. A empresa não tem cervejaria própria pelo que a cerveja é vendida online, na fábrica, em restaurante, bares e lojas gourmet (aqui fica uma lista com alguns dos sítios onde pode encontrar a Bolina).

Cerveja customizada: na fábrica da Bolina também é possível fazer uma cerveja à medida. “As pessoas dizem-nos o que pretendem e nós concretizamos o produto. Isso é interessante, por exemplo para empresas ou alguma comemoração em específico”.

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