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Um português no Cirque du Soleil

O mundo do espectáculo cedo se tornou a segunda casa de Hugo Martins. Tinha sete anos quando começou a praticar ginástica artística no Ginásio Clube Português, camisola que envergou durante os 15 anos em que foi atleta de alta competição. Aos 21 anos, uma carreira em palco afigurava-se como o próximo passo, mas a incerteza de um futuro bem-sucedido no meio artístico fê-lo enveredar pelo seu segundo sonho de criança: a aviação comercial. “Muitas vezes a sociedade pede que sigamos coisas financeiramente mais seguras e garantidas, e eu fui um bocadinho atrás desse apelo”, começa por contar ao jornal Público. Fez um curso de piloto comercial e entrou na TAP, mas só esperou até aos 26 anos para começar a dançar.

Entrou na Escola Superior de Dança, em Lisboa, e uma das audições que a faculdade promovia com profissionais da área levou-o até Benvindo da Fonseca. Foi através de uma segunda audição com o bailarino e coreógrafo que Hugo Martins conseguiu um lugar na Companhia de Dança de Almada. Deixou o curso para trás, continuando a aprendizagem em projectos na Companhia de Dança Contemporânea e na Companhia Olga Roriz.

Foi enquanto bailarino que Hugo Martins optou por se estrear na direcção e produção de espectáculos. “Achava que faltavam projectos ambiciosos ligados à dança e decidi criar a minha própria companhia”, recorda. Em 2004, nascia a Lisboa Ballet Contemporâneo, um projecto partilhado com os coreógrafos Benvindo Fonseca e Paula Careto, “duas figuras centrais” no seu percurso artístico.

Ao longo deste período, acumulou funções de performance e de produção ou direcção de espectáculos. A sobreposição de actividades levou a que o processo de transição de dentro para fora de palco fosse mais espontâneo que premeditado. “A dança é uma situação muito física e que às tantas o corpo não acompanha”, nota o bailarino. No último ano, Hugo trabalhou em Pequim, na China, como director artístico de Cavalia, uma companhia criada por Normand Latourelle (um dos fundadores do Cirque du Soleil) e cujos espectáculos resultam de uma dinâmica multidisciplinar com actores, cantores, bailarinos, aerialistas e cavalos. “Foi desafiante dirigir um elenco de mais de 40 artistas de diferentes culturas, línguas e actividades”, explica Hugo, acrescentando que a experiência “foi uma grande preparação para poder ter capacidade e currículo para embarcar nesta nova aventura”.

Quando soube que o Cirque du Soleil estava à procura de um director artístico para um dos seus espectáculos, candidatou-se àquela que seria a “oportunidade perfeita para juntar todo o mix do background profissional”. Foi então chamado para dirigir Toruk – The First Flight, uma das mais recentes criações da companhia canadiana a partir do filme Avatar (2009), de James Cameron, e que esteve recentemente em digressão pelos Estados Unidos. O português partiu este sábado para a sede da companhia, no Canadá, onde o espera uma semana dedicada à dinâmica e aos procedimentos do Cirque du Soleil e, mais especificamente, do espectáculo que terá a seu cargo. “Esta é uma companhia onde o céu é o limite em termos de criatividade e há condições técnicas que realmente não se conseguem noutro sítio”, refere Hugo Martins.

O espetáculo retoma a digressão em Manila, Filipinas, onde Toruk – The First Flight cruzando a Ásia para depois chegar à Europa. O reconhecimento internacional e a dimensão do fenómeno que é o Cirque du Soleil – actualmente com 27 espectáculos em cena em todo o mundo – “assustam um bocadinho”, mas Hugo espera que a sua bagagem multidisciplinar, que também inclui o teatro musical, ajude a transportar a audiência a Pandora. “Quero que os meus artistas consigam pôr o público em contacto com as suas emoções, independentemente de estarem a dançar, a cantar, ou a fazer as mais difíceis acrobacias”.

Não é o primeiro português a integrar a gigantesca equipa do Cirque du Soleil, mas reconhece o privilégio que é ser o primeiro a coordenar um dos espectáculos da maior companhia de artes circenses do mundo. “Sou um de muitos portugueses que se calhar foi mais teimoso em procurar condições um pouco acima do que têm para chegar a um trabalho de excelência”, atira o artista. Apesar de admitir que o seu treino profissional foi feito inteiramente “com as diferentes instituições e criativos do nosso país”, aponta que “falta investimento na área a nível governamental”. E aponta o próximo desejo, que passa por um espectáculo como a dimensão do portefólio do Cirque du Soleil, “mas no meu próprio país”.

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