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Um país de bruxos

Sou do tempo em que, por ironia cáustica, se dizia que Portugal era um país dos três efes: Fátima, fado e futebol. Eram os tempos do obscurantismo em que o temor a Deus, a virtude da pobreza e da castidade eram meio caminho andado para o reino dos céus.

Passaram anos, muitos questionam Fátima, outros deixaram de gostar de fado e enveredaram por adorar o «xico fininho» do Rui Veloso e ainda mais, nos quais me incluo, não conseguem vibrar com o futebol, tão longe está o tempo em que o nosso clube dava cartas, sempre que o leão rugia. Agora, anda um pouco rouco. Mas, para felicidade de um povo basicamente temente a Deus, crédulo e que continua a creditar em quem o sugou durante quatro anos e lhe promete os amanhãs que cantam, apenas porque não ousam desafiar a ira de Deus ou a pantomina dos homens. Para esses ou para nós todos, a classe política inventou uma prática que, sendo na essência obscurantista, reverte para o oculto, para o insondável e para a crença a que somos tanto atreitos, como pensar que amanhã nos vai sair o euromilhões, a bruxaria.

E o fenómeno já não se envolve em mantos diáfanos da iliteracia, tem antes destaques e protagonistas nas TVs, nas rádios e nos jornais. Os «bruxos» estão presentes em todos os programas, em todas as opiniões ou debates. Nas mais doutas análises.

Quem segue a nossa comunicação social, já estranhou que todos os comentadores chamados residentes, são de direita; ele é Marcelo, ele é Marques Mendes, ele é Pulido Valente, José Gomes Ferreira e por aí fora porque é melhor ficar por aqui, se não, não chega a página para os nomes todos que me estão na cabeça.

O curioso é que nos habituámos a «acreditar» no que diziam, até ao dia em que se deitaram a adivinhar.

Hoje, são todos bruxos.

Não se faz mais análise política dos factos, mas criam-se esses mesmos factos.

Trocando por miúdos: um governo de esquerda vai aumentar o défice, dar dinheiro à rapaziada, pôr os portugueses a comer todos os dias, tirar os velhinhos da pobreza e isso é mau. Ninguém conhece, em pormenor o programa de um eventual governo de esquerda, mas vai já de dizer o que vai acontecer, como se todos tivessem uma bola de cristal.

Claro que a direita vai tentando dar um jeitinho, viajando low cost por essa Europa fora a pedir aos investidores para excomungarem Portugal se Costa subir ao poder. Depois, chegam cá dentro e botam a boca no trombone para garantir que os mercados estão muito preocupados, embora sejam desmentidos, logo de seguida, pela baixa da taxa de juros da dívida e pela melhoria dos indicadores económicos.

Ou seja, os nossos novos bruxos são muito fatelas.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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