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Um guarda-redes português entre a Inglaterra e a Suécia

Mauro Ramos Pereira é um guarda-redes de origem portuguesa com um longo percurso no futebol internacional que agora vai jogar na Suécia. Reproduzimos aqui uma entrevista concedida pelo atleta aos Lusitanos Oxford.

O teu percurso no futebol tem sido internacional.  Fala-nos um pouco da tua carreira.

Comecei a jogar futebol  como federado aos 11 anos pela Associação Desportiva da Camacha, clube que representei por 6 anos consecutivos.  Fiz uma pausa na minha carreira entre os 17 aos 23 anos, voltando a jogar em ligas amadoras e universitárias na Inglaterra. Em 2008 assinei pelo Didcot Town FC, clube que representei por 5 anos. Em 2013 mudei me para a Suécia onde joguei para clubes tais como Vaxjo BK, Vaxjo Norra IF, Vaxjo United FC, Lund BOIS. De momento assinei com Rydaholms GoIF  da terceira divisão sueca. O contrato foi assinado por uma época.

Qual foi a tua refêrencia nas balizas e porquê? Atualmente qual é o Guarda-redes que mais aprecias ver jogar?

Muito embora eu não seja adepto do FC Porto, Vítor Baía foi um guarda-redes que sempre me inspirou.  A sua calma, agilidade, técnica, visão de jogo e antecipação eram excecionais.  Também me inspirei muito no Neno do Sport Lisboa Benfica, e no Bernard Lama do Paris Saint-Germain pelo caráter deles, confiança entre os postes e atleticismo. Atualmente o guarda-redes que mais aprecio ver a jogar e o Manuel Neuer.  Ele é sem duvida o melhor do mundo. Simplesmente confiante! Transmite um ar de “quem manda aqui sou eu”. Ele é o protótipo do guarda-redes moderno, confiante entre e fora dos postes, com excelente distribuição. Neuer não se preocupa muito com “estilos” mas sim com fazer a defesa seja de que maneira for. O alemão é simplesmente um génio na baliza com tremenda eficácia.

Como descreves as principais diferenças do ponto de vista de um guarda-redes entre o os futebóis português, inglês e sueco?

A principal diferença vê-se na técnica.  Pequenas diferenças na técnica de guardar redes, que são simplesmente outras formas de se fazer a mesma coisa e cumprir o mesmo objetivo. No que diz respeito ao futebol jogado, a Inglaterra tem como característica principal o jogo aéreo e um ataque e contra-ataque rápido e eficaz. Já aqui na Suécia os guarda-redes têm que ficar extremamente atentos ao lances de bola parada. Por exemplo, cerca de 80% dos golos que concedi aqui na Suécia contra equipas com jogadores predominantemente suecos resultaram de lances de bola parada. Eles são peritos nisso e a impressão que tenho é de que eles praticam isso constantemente. Na maioria das vezes adotam uma tática muito defensiva e tentam capitalizar com livres, pontapés de canto, lançamentos laterais. Em qualquer lance de bola parada eu aplico o dobro da minha concentração de maneira a que não seja apanhado desprevenido.

Como foi a tua mudança do BW90 para o teu clube atual, o Rydaholms GoIF, sendo ambos da mesma divisão mas de grupos diferentes?

Inicialmente eu estava decidido a ficar no BW90 IF mas devido à crise financeira que o clube atravessava na altura isso criou muitas incertezas. O facto de eu não saber se o clube estaria operacional nesta época provocou a minha mudança súbita para o Rydaholms GoIF. Foi stressante como todas as mudanças, pois os dois clubes se encontram a duas horas de distância um do outro.

Como tem sido a tua integração na Suécia? O que nos podes dizer do povo sueco?

Bom, aos poucos estou a aprender a falar sueco. Viver noutro pais é sempre uma nova experiência, e um novo desafio que sempre nos puxa para além da nossa zona de conforto. Tenho muito boa impressão do povo sueco. Um povo calmo, muito paciente, educado, cívico, e com uma ética profissional incomparável.

Que sítios recomendas a um turista para visitar na Suécia?

Eu recomendaria um turista a visitar Vaxjo, considerada a cidade mais “verde” da Europa em termos  de ter a taxa mais baixa de emissões de carbono. Vaxjo é uma cidade caracterizada pela sua beleza paisagística, bem como os dois lagos icónicos situados aos arredores da cidade.

Qual o clube que mais te marcou pela positiva na tua carreira?

Sem dúvida a Associação Desportiva da Camacha. Foi um clube que me recebeu de braços abertos não só como jogador mas praticamente como um membro de família.  Isso é muito importante para um jogador que esteja a iniciar uma carreira futebolística. Pois são essas atitudes positivas dos clubes que fomentam a motivação dos jogadores. É por isso que tenho, e sempre terei um sentimento de gratidão enorme pela Associação Desportiva da Camacha.

No sentido inverso, que clube gostarias de ter evitado representar?

De momento não acho que haja um clube que não gostaria de ter representado.  O futebol nos ensina muitas lições de vida, e os assim chamados “bons” e “maus” clubes são nada mais do que parte no percurso de uma longa história de altos e baixos.

Pelo respeito que tenho ao futebol procuro sempre fazer a minha parte com muito empenho, dedicação, e integridade. Pois todos os obstáculos que encontramos pela frente durante  uma carreira de futebol testam o nosso caráter, determinação, sinceridade, força de vontade e motivação. Não é um caminho para quem quer uma vida confortável. O futebol é marcado por muito risco e muitas incertezas.

Treinador que mais te marcou?

Seria injusto da minha parte focar-me em um só treinador. Várias pessoas tiveram um impacto positivo em mim. Mas principalmente os membros da equipa técnica, médica, administrativa da Associação Desportiva da Camacha. Entre eles cito Dias (treinador de guardar-redes), Marcelino (treinador principal), Justino, Eduardo e Sérgio (dirigentes do clube), e o doutor Celso.

Colega de equipa que mais te impressionou?

Um dos colegas de equipa que mais me impressionou foi sem dúvida o Miguel Dias nos tempos em que jogávamos juntos nas camadas jovens da Associação Desportiva da Camacha.  O pé esquerdo dele era simplesmente fenomenal, e mais ainda era os golos que ele marcava. Outro colega de equipa que me impressionou foi o guardar-redes brasileiro-italiano Marcos Belolli Pereira. Éramos rivais mas mesmo assim tínhamos um espírito de irmandade e cooperação fora do comum. Jogámos juntos no Didcot Town F.C. na época 2012-13.

És agenciado pela Lusox  Sports empresa Britânica com fortes ligações a Portugal. Como tem corrido essa ligação?

Estou muito grato por ter essa ligação e por saber que estou em boas mãos, com pessoas competentes, com bons valores, e com a mesma paixão pelo futebol que eu tenho.

O que esperas desta época a nível coletivo e individual?

Bom, a nível coletivo espero que possamos dar o melhor de nós, desenvolvermos um bom espírito de equipa e assim atingirmos o nível mais alto possível na tabela classificativa. Quanto a nível pessoal vou sempre procurar dar o meu melhor para que possamos atingir da melhor forma o nossos objetivos  a nível coletivo.

Aos 37 anos sentes que ainda tens muito para dar ao futebol. Quais os teus objetivos futuros a nível futebolístico?  Vês-te como treinador de guarda-redes ou em outra função ligado ao mundo do futebol?

Para já não tenho grandes ambições. Procuro viver cada dia de treino e cada dia de jogo com gratidão e com a satisfação que vem de poder fazer algo que mais gosto de fazer: jogar futebol.

Que mensagem gostavas de deixar aos jovens guardiões que estão a iniciar a carreira agora?

Gostaria de dizer aos jovens guardar-redes que aproveitem o máximo e desfrutem da oportunidade de poderem jogar entre os postes. É sem dúvida uma grande aventura!

Sentes que o jogador português é valorizado além fronteiras mais do que em Portugal?

Bom cada país tem um estilo único que se torna saliente quando o jogador joga for a do país de origem.  Dessa forma o jogador estrangeiro acaba por tornar-se um elemento de variedade da equipa. Nesse sentido, acho que o jogador português não seria mais valorizado na Suécia, do que o jogador sueco em Portugal.

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