“The Florida Project” foi seleciondo no âmbito da Quinzena dos Realizadores em Cannes. Há qualquer coisa nos filmes independentes de cineastas debutantes norte-americanos (sejam eles do Canadá ou dos Estados Unidos) que me irrita. Poderia dissertar detalhadamente sobre o assunto mas para resumir digamos que algum cinema independente americano acha que ser original é rodar um filme como se ele fosse europeu. E, curiosamente, o melhor cinema europeu ainda se faz no velho continente. Por isso, para quê ir ver cópias em vez dos originais? Apresar de tudo, os meus palpites falharam.
Do princípio ao fim desta obra todos somos Moonee, uma miúda de seis anos que vive num motel nos arredores do parque Disney World, na Flórida.
Moonee é o perfeito reflexo da mãe que é uma jovem, demasiado jovem, que não tem papas na língua e que tenta sobreviver e educar a sua filha como pode e sabe. Moonee não tem fronteiras, nem limites, não tem papas na língua e diverte-se brincando com os seus vizinhos da mesma idade.
O realizador decide que temos de nos identificar com Moonee e coloca-nos quase sempre atrás dela. Essa opção ajuda também a melhor perceber o ritmo da pequenita que é rápido, como o de todos os miúdos, e que, como qualquer criança da sua idade, se aborrece rapidamente.
O campo de jogos de Moonee é o motel onde vive com a mãe, alargando-se aos edifícios das redondezas.
O gerente do motel é apresentado como um homem duro e desagradável mas que se vai revelando protetor. A escolha de Willem Dafoe – a única estrela do elenco de “The Florida Project” – resultou num enorme valor acrescentado muito mais do que pelo nome famoso: o veterano ator é o contraponto da jovem protagonista, uma espécie de figura paternal tanto para a criança como para a mãe.
O realizador, Sean Baker, assina um filme impressionante de emoções para além de ser um retrato realista. “The Florida Project” é uma daquelas obras que ninguém quer ver uma segunda vez porque que deixa marcas a ferro quente.
“The Florida Project” de Sean Baker, com Brooklynn Prince, Willem Dafoe, Bria Vinaite, Christopher Rivera e Valeria Cotto.
Raúl Reis, em Cannes
