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Socialismo capitalista

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O que é que um lucro de 82% na venda de um apartamento que António Costa comprara 10 meses antes e a aquisição, por 600 mil euros, de uma casa em Madrid, pelo comunista espanhol Pablo Iglesias têm que ver entre si? Tudo. Sendo que o que revelam é o pior da política; a moral fácil e falsa que se aplica a pensar nos votos, mas que não se pratica e se desvaloriza em causa própria, sem sentir sequer vergonha.

Quando quis sublinhar que “26 mil famílias vivem em condições precárias sem ter acesso a uma habitação digna”, o primeiro-ministro repetiu há semanas o que já dissera noutras ocasiões: acabaremos “com um dos maiores dramas sociais que o Governo PSD/ CDS legaram, que foi uma lei das rendas injusta e desumana, que nem os idosos poupa à especulação imobiliária”.

Azar nítido, soube-se depois que o sensível e bondoso líder do PS vendera por 100 mil euros o apartamento que há menos de um ano comprara por 55 mil euros a um casal de idosos que nele tinha aplicado as poupanças de uma vida, sensibilizados por um argumento: o imóvel “era para a filha do primeiro-ministro ficar a morar perto do café do irmão”.

Será difícil antecipar o que é que para António Costa cabe no conceito de “especulação imobiliária”. Mas para lá do engodo, quase duplicar em 10 meses um investimento na compra de um apartamento, que por causa do pretexto invocado adquirira muito abaixo do preço de mercado, foi no mínimo um negócio da China, em que o que menos importou foram preocupações com a velhice alheia. Compreensivelmente, da anterior dona, residente na Sertã, um comentário lapidar: “Isso dá choque, está a ouvir? Porque eram as nossas coisas, nós lutámos tanto para economizar e conseguir comprar lá uma coisinha. E, finalmente, vendemos e foi assim meio-dado, meio-vendido, para outros irem gozar à nossa custa.” Outros, leia-se, é o primeiro-ministro de Portugal.

Do mesmo modo, quando quis pregar moralismo barato, o líder do Podemos, Pablo Iglesias, criticou o ministro espanhol Luis de Guindos no Twitter, perguntando assim: “entregarias a política económica de um país a quem gasta 600 mil euros num apartamento de luxo?”.

Agora, enquanto gasta 600 mil euros numa casa de igual luxo, o representante da extrema-esquerda espanhola pede votos para ser primeiro-ministro de Espanha, mas já não há problema nenhum.

A leviandade nas contradições é tão absoluta que chega a ser insultuosa. Mostra os milagres de que, à Esquerda, um cheirinho de capitalismo é capaz. E a moral da história é a falta dela. Bem pregava Frei Tomás.

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