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“O sentido do fim” de Julian Barnes

Ficha técnica

Título – O sentido do fim

Autor – Julian Barnes

Editora – Quetzal

Páginas – 152

 

Opinião

A primeira leitura do mês não me preencheu… A escrita do autor é irrepreensível, o final é surpreendente, mas simplesmente não consegui criar laços com nenhuma personagem, muito menos com o protagonista, Tony Webster.

O sentido do fim está dividido em duas partes.

A primeira retrata a juventude do narrador e da sua pandilha. São quatro rapazes “à espera que nos soltassem para a vida”, com “fome de livros, fome de sexo”. Tony, Colin, Alex e Adrian, o último a juntar-se à pandilha, são jovens dos subúrbios, que olham com gula para o que o futuro lhes pode reservar e que vivem teorizando, discutindo, partilhando ideias e leituras, mas cuja visão da realidade pouco ou nada tem de concreto, de realizado.

Apesar de ser o mais recente elemento do grupo, Adrian apresenta-se para os restantes como sendo o mais inteligente dos quatro, como sendo aquele que provém de uma família desestruturada e, como tal, mais interessante e como sendo o que seguramente será brindado com um futuro mais promissor. Os restantes em nada se destacam uns dos outros, apenas vamos seguindo com mais detalhe o dia-a-dia de Tony porque é ele o narrador desta história.

Na segunda parte da obra saltamos para o presente – “Agora estou reformado” – e compreendemos que a vida de Tony se mantém estagnada, ou, como o próprio afirma não se desenvolvera, só se acrescentara. “Tinha havido soma – e substração – na minha vida, mas quanta multiplicação? Isso deu-me um sentimento de mal-estar, agitação.” Divorciado, mantém uma relação amigável com a ex-mulher e uma relação cordial com a filha. O resto é composto por ninharias. Uma existência cinzenta que vai ser agitada pela chegada de uma carta que o vai fazer pôr em causa muitas das certezas absolutas em cima das quais construíra os alicerces da sua vida adulta.

Como se depreende de tudo o que referi, a premissa desta obra é deveras apelativa e encaixa perfeitamente no que busco nas minhas leituras. Contudo, volto a dizer que não fui capaz de me ligar ao seu conteúdo e sobretudo às suas personagens. Tony é fraco, muito pouco ambicioso, volúvel e parece estar sempre à procura da aprovação dos outros. Adrian prometia uma lufada de ar fresco, envolvia-o uma aura de mistério e aparente desinteresse por o que os outros pensavam dele, mas sai da narrativa demasiado cedo. Veronica, a personagem feminina de mais relevo, é contraditória, provocante, bule com os nervos dos outros e dos leitores, mas chega-nos de forma insuficiente e nunca ficamos a conhecê-la verdadeiramente. Três personagens imperfeitas, humanas, mas que, pelos motivos que explanei, foram soçobrando ou, no caso de Tony, mantendo-se muito planas praticamente durante toda a narrativa, sofrendo apenas umas ligeiras mudanças no final. Um final que é surpreendente, mas que não compensa o restante. Pelo menos para mim não compensou.

Não sei se voltarei a ler Julian Barnes. A sua escrita é muito boa, há passagens de uma simplicidade e clareza memoráveis, mas se a isso não estiverem associadas personagens que cheguem até mim e com as quais estabeleça alguma ligação, será perda de tempo pegar numa outra obra sua. A ver vamos. Pode ser que alguém me sugira algum título seu que me convença a dar-lhe outra oportunidade. Fico à espera.

NOTA – 05/10

Sinopse

Tony Webster e a sua clique só conheceram Adrian Finn no fim do liceu. Famintos de livros e de sexo, e sem namoradas, viviam esses dias em conjunto, trocando afetações, piadas privativas, rumores, e mordacidades de todo o género. Talvez Adrian fosse mais sério do que os outros, e seria certamente mais inteligente. Mesmo assim juraram que ficariam amigos para o resto da vida.

Tony está agora reformado. Teve uma carreira, um casamento e um divórcio amigável. E nunca fez nada para magoar ninguém – ou pelo menos acredita nisso. Mas a chegada da carta de uma advogada desencadeia uma série de surpresas e acontecimentos inesperados que lhe vão mostrar que a memória é afinal uma coisa altamente imperfeita.

O Sentido do Fim, o mais recente romance de Julian Barnes e livro recém-galardoado com o Man Booker Prize 2011 – é a história de um homem que se confronta com o seu passado mutável.

Com marcas da literatura inglesa clássica – na apreciação do júri que o distinguiu – O Sentido do Fim constrói, com grande delicadeza e precisão, uma trama tensa, forte, e revela a mestria de um dos maiores escritores dos nossos tempos.

in O sabor dos meus livros

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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