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Santos Silva rejeita comparação entre “bom imigrante português em França” e outros migrantes

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, rejeitou este sábado em Paris a ideia do “bom imigrante português em França por contraposição ao mau imigrante”, numa reação a uma petição que recolheu mais de 800 assinaturas.

O abaixo-assinado, contra a “instrumentalização da história da emigração” portuguesa para França, denuncia a utilização da imagem do português como “o bom imigrante” contra, por exemplo, imigrantes africanos e começou por ser publicado numa tribuna do jornal Le Monde, a 09 de janeiro.

Em resposta à Lusa na feira Maison & Objet, em Paris, Augusto Santos Silva sublinhou que “não compete a um membro do governo estar a comportar-se como se fosse um cidadão peticionário”, mas afirmou “compreender o sentido dessa petição”.

“O caso português é um caso exemplar do ponto de vista de migrantes que sabem preservar a sua identidade nacional e que sabem adaptar-se à sociedade que os acolhe, respeitando as suas regras, os seus valores, as suas instituições e as suas leis. Mas não há o bom imigrante português em França por contraposição ao mau imigrante, seja ele de que região, de que religião ou de que origem étnica for”, declarou.

O ministro acrescentou que “as migrações são um movimento positivo na história da Humanidade” e que “o que é preciso é regular as migrações” para combater a imigração ilegal, o tráfico de seres humanos e para “garantir oportunidades de integração na sociedade, no mercado de trabalho, na economia às pessoas que procuram uma vida melhor para si e para os seus filhos”.

A petição, disponível na plataforma online Change.fr, foi escrita pelo historiador Victor Pereira e pelo jornalista Hugo dos Santos, depois de a sua carta-aberta no Le Monde ter sido subscrita por 49 pessoas, nomeadamente especialistas da emigração portuguesa para França, sociólogos, realizadores e professores universitários.

O texto no Le Monde surgiu em resposta às declarações de dois jornalistas e de um académico franceses que defenderam, na imprensa gaulesa, que não havia violência no tempo dos bairros de lata portugueses de Champigny-sur-Marne, numa comparação com os violentos incidentes ocorridos naquele local na noite de fim de ano.

A petição recorda os trabalhos do sociólogo Albano Cordeiro, nos anos 1980, que referem “a dinâmica social que consistia em tornar invisível a imigração portuguesa para ampliar a rejeição dos imigrantes magrebinos”.

“Ou seja, quanto mais os ‘árabes’ se tornavam indesejáveis, mais os portugueses se tornavam invisíveis e, por isso, ‘integrados’. Estas imigrações estão ligadas desde sempre como duas faces da mesma moeda e unidas pelo mesmo desprezo expresso por uma parte da sociedade de acolhimento”, continua.

Por outro lado, o documento indica que “as afirmações sobre o bairro de lata português de Champigny-sur-Marne são pura e simplesmente falsas e não verificadas” porque havia uma “violência simbólica e arbitrária” a que eram submetidos os portugueses, com medo permanente de serem denunciados à PIDE [polícia política do antigo regime] e com medo de serem realojados e afastados dos seus próximos.

O texto indica, também, que “contrariamente à imagem assética que se cola aos portugueses, as autoridades temiam as suas reações” e que “os trabalhadores portugueses também sofreram a rejeição de certos vizinhos que se queixavam destes estrangeiros e exigiam a intervenção das forças da ordem”.

“A clandestinidade, a exploração, os bairros de lata, o racismo: vivemos todas estas experiências como as vivem – a níveis ainda mais intensos – os imigrantes africanos de ontem e de hoje”, continua o documento, que recorda “episódios de revolta e de combate” como o de Lorette Fonseca, uma imigrante portuguesa que militou pela alfabetização do bairro de lata de Massy e que foi ameaçada de expulsão.

Na conclusão, o texto insiste que se opõe “publicamente à instrumentalização” da história e da memória da emigração portuguesa para França “que também fazem parte da história de França”.

“Estas manipulações querem reforçar o racismo que atinge hoje algumas populações estigmatizadas, da figura do ‘muçulmano’ à do ‘Rom'”, conclui o documento.

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