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Reflexão sobre o fim da vida

A vida é uma dádiva que devemos aceitar com alegria e reconhecimento, do valor que essa dádiva significa.

Se passarmos essa vida a pensar no que fizemos ontem, e no que temos de fazer amanhã, esquecemo-nos de viver. Não lhe chegamos a apreciar o sabor, nem sequer nos damos conta de que ela nos passa em frente dos olhos com a velocidade alucinante de quem vive num mundo falacioso, ignorando a realidade, como se ela pudesse ser manipulada pelos constantes pensamentos que a mente nos leva a querer acreditar, naquilo que gostaríamos que fosse e não como realmente é.

Fabricamos as nossas próprias ilusões, adaptamos as realidades à nossa maneira, criamos o nosso próprio mundo. Chocamos com ele, diariamente, quase a todo o momento. A mente não para. Como um menino rebelde e sem limites, constantemente nos leva para além do que é verdadeiramente real. Amamos, odiamos, temos ciúmes, temos raiva, temos alegria, choramos e rimos, somos sarcásticos e maldosos, vingativos, amáveis e tolerantes. A nossa mente não para.

Toda esta amalgama de sentimentos nos ofusca muitas vezes a razão. As nossas asneiras e os nossos erros parecem sempre mais criticáveis nos outros.

Quão penoso seria viver assim, se fossemos eternos.

O nascimento traz consigo a certeza da morte. No entanto quando uma mãe dá à luz, celebramos com alegria o nascimento. Uma nova energia passa a fazer parte do mundo e ajuda-o a continuar a girar. O mundo para ser mundo precisa dessa energia que se renova diariamente em cada ser que nasce.

Desde o nascimento até uma certa altura da vida, tudo se ajusta. Temos sempre quem nos cuide (nem todos infelizmente) quem se preocupe por nós, quem nos providencie a alimentação, o vestuário, o abrigo, a educação. E tudo é tão maravilhoso, os dias são grandes e duram mais horas do que as horas dos crescidos. E continuamos a crescer até ficarmos adultos.

Aí, como numa estafeta, pegamos no testemunho e corremos pela vida fora até chegar a vez de passar o testemunho ao “atleta” seguinte. Durante esse percurso esquecemo-nos dos tempos em que fomos crianças, e a partir desse ponto o tempo passa a correr, numa velocidade que acabamos por não acompanhar. A energia forte e irradiante com que viemos ao mundo vai perdendo intensidade, vai perdendo força.

O corpo, com o tempo vai-se transformando, deteriorando, caminhando para um fim. Nada dura para sempre.

Os pensamentos, os sentimentos, as preocupações, e até as dores, caminham na mesma direção para um fim. Na roda da vida, vamos descendo no aro até ao centro. Aproximamo-nos do centro da tempestade, fugindo finalmente aos ventos turbulentos da vida. Neles deixamos tudo o que nos fez cansar, tudo o que nos desgastou como humanos à face da terra, tudo o que nos fez envelhecer durante o trajeto.

Chega o fim dos grandes tormentos que a mente nos criou ao longo da vida. Todos os têm. Os que vivem pior, e os que parecem viver melhor. Com o corpo morrem as vaidades, os vícios, as maldades, a cobiça, a soberba, o ciúme, o cinismo, a falsidade e tudo o mais em que a mente se vai ocupando durante a nossa existência na terra. Tudo, em que nos ocupamos durante a vida, menos o que realmente deveria importar. Nós, como centro de dádiva para fazer com que o mundo dos outros seja um lugar de bom viver. O mundo deles é o nosso mundo também.

A morte assusta, mesmo que a vida por vezes seja uma miséria de ser vivida. A morte será o ultimato como experiência de uma transformação para uma nova jornada que deixa para trás tudo o que não interessa. O ser liberta-se de tudo o que o retrai. A essência principia com uma nova energia. Livre para finalmente iniciar uma nova etapa…

Foste luz acabada de nascer,
uma força da natureza,
foste energia e foste beleza
e não paraste de crescer

Foste a tempestade
e a força do vento,
a luz no firmamento,
a mentira e a verdade

Foste uma esperança sem amparo
na vertiginosa roda da vida,
perdeste energia, perdeste alento,
e em queda livre desde a ponta do aro
iniciaste a alucinante corrida
descendo até ao centro

Foste como uma luz intensa
que foi perdendo brilho,
na vastidão imensa
do universo, foste filho

E agora que chegas ao fim da caminhada
De tudo o que conquistaste e possuíste
Não levas absolutamente nada
Do que criaste, ou do que destruíste

É o tempo meu amigo, que se vai.
É o principio de um novo dia,
o ser liberta-se do que o retrai,
a essência principia uma nova energia

(Sem ofensa aos verdadeiros poetas…)

António Magalhães

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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