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Quem se lembra de Fernando Nogueira?

Eu lembro-me. Com alguma ternura. Tinha eu 9 anos e acabara de descobrir que havia uma coisa chamada política quando os telejornais anunciaram o temível adversário que o primeiro ministro António Guterres iria enfrentar nas eleições de 1996, o recém eleito novo líder do PSD! Fernandoooo Nogueiraaaa!

Recordo-o como um senhor calmo. De aura antiga e olhar de pintura a óleo que parecia dizer que algo estava errado, algo não deveria ser assim. Parecia ter coragem mas faltar-lhe astúcia (poder-se-ia dizer que aparentava ser afável, não fosse ser esse um adjetivo com que caraterizamos todos os homens de barba).

Como eram as minhas, aos 10 anos, primeiras eleições, acreditei no que diziam os jornalistas. A excitação: quem venceria, o futuro Secretário Geral das Nações Unidas ou… Fernando Nogueira? Mal podia esperar. No fim, venceu de novo António Guterres, que vinte anos depois seria um político de estatuto internacional, derrotando Fernando Nogueira, que vinte anos depois seria… Fernando Nogueira.

Pensará o leitor com menos de 30 anos: “esse tal de Fernando Nogueira devia ser importante, curioso eu não saber quem ele é”.
Não.
Não é curioso.

Pois li ontem na página inicial do facebook que, passados estes vinte anos, não só o PSD ainda existe como elegeu Rui Rio como líder… a lei do eterno retorno expressando-se com tal intensidade que o país de desespero volta a fingir que tal homem poderia vir a ser eleito, para tentar não parecer que estamos em 1995. Ou 1985. Ou 1975. Antes não, que não havia democracia. Vêm o que é uma novidade?

Termos em 2019 António Guterres II contra Fernando Nogueira II não é grave para o país. Mas causa descrença na república. Se é para serem todos iguais mais valia a monarquia.

Por isso, uma palavra de conforto aos meus amigos portuenses: sinto como meus os vossos sofrimentos pelos males vos infligidos pelo mais recente sucessor de Fernando Nogueira. Mas de Gaia para baixo a popularidade de Fernando Nogueira é tão grande como a de Rui Rio. Perdão, ao contrário. O que é a mesma coisa.

A geringonça terá vida longa. E daqui a vinte anos alguém perguntará: “quem se lembra de Rui Rio”?

Voltando a temas interessantes: que organismo internacional liderará António Costa daqui a 20 anos?

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