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Psicóloga em seis países diferentes: Suíça

Um dia houve um professor que veio da Suíça e ficou estupefacto de eu falar português e alemão. Eu pensava: “é natural, português tenho que saber, alemão aprendi desde dos quatro anos. Não sei qual é a dificuldade. Sou real.” Ele continuava: “Ah, mas é fantástico, nunca vi uma pessoa assim, não sei quê. Não quer vir connosco para a Suíça?”

E tenho que ser sincera. Eu não conhecia a Suíça. Tinha aquela ideia de os primos da minha mãe irem à Suíça quando cá não podiam arranjar alguma coisa a nível de saúde. Não estou a falar de eutanásia. Mas sim de tratamentos que ainda não havia cá. Iam para a Suíça onde havia hospitais fantásticos, diziam eles.

Sempre conheci os relógios, os chocolates suíços. Mas nunca tinha estado na Suíça. E não achava o povo assim muito simpático. Tinha conhecido no colégio uma pessoa ou outra da Suíça.

“Suíça? Alemães, ok, consigo aturá-los, agora suíços, calma aí”.

Mas comecei a ir à Suíça uma vez por semana a ver se me adaptava. E lembro-me de um dos meus professores que eram os directores do Centro de Pedopsiquiatria da Universidade de Zurique esforçar-se imenso para me incentivar na mudança. Um era psicólogo, outro era psiquiatra. E, como dizia, lembro-me do psiquiatra, que por acaso já faleceu (uma enorme perda para a Psiquiatria e para mim), me dizer: “Oh Marta, mas vem, e tu gostas de velejar, eu arranjo-te um barco e vais velejar com os meus amigos e, não sei quê…”. E eu só pensava assim: “O quê, nisto? Nesta piscina? Velejar não, nem pense.”

Referia-me ao lago. Habituada ao Oceano Atlântico: os meus primeiros 23 anos de vida no Porto, a ver o mar diariamente.

“Não, não quero.” Achava que aquilo eram só pessoas a falar sozinhas na rua e no comboio. E tinha que passar naqueles comboios por aqueles túneis horrorosos da Alemanha para a Suíça. Às vezes (isto é, quase sempre) o comboio tinha que parar nos túneis, e aquilo era para mim assustador.

Achava Zurique muito cinzento. No entanto, tantas foram as estratégias de atracção para eu ir, que fui. Sempre com aquela: “eu vou, mas continuo com os projectos na Alemanha. Tenho que vir aqui uma vez por mês. Se alguma coisa correr mal, volto para a Alemanha”. Mas fui.

Fui e posso dizer que foram dos melhores anos da minha vida. Acabei por fazer lá o Doutoramento. Acabei por conhecer uma pessoa a quem chamo a minha Irmã Suíça. Era a minha colega de Doutoramento.

E na verdade fui eu que lhe fiz a entrevista para ela entrar no nosso projecto. E foi giríssimo porque ela fala fluentemente uma série de línguas. É também uma poliglota. Mas na altura, como boa suíça, meia tímida, não dizia “eu falo sete línguas”, que é o que eu digo sempre, não é? Ela não, dizia “não, eu falo mais ou menos”. Claro que não. Fala fluentemente todas as línguas.

Na Suíça eu vivia numa residência com 120 estudantes de todo o mundo. Onde fiz muitos amigos. E que ainda mantenho até hoje. Fiz relações fantásticas com amigos indianos budistas e amigos árabes muçulmanos. Comecei a cozinhar outro tipo de comida: asiática, vegetariana. E era muito engraçado, porque a maioria era ou doutorando como eu ou até pós-doutorando. Havia mesmo já quem fosse Professor na Universidade. Foi uma experiência muito rica.

É óbvio que a lista de publicações começou a aumentar. A investigação começou a aumentar. Comecei a ter contactos fantásticos que depois me permitiram mais à frente na carreira ser investigadora convidada na Universidade de Harvard nos Estados Unidos, ser professora convidada na Universidade do Rio Grande do Sul no Brasil, etc.

Inclusive tive a oportunidade de ir ao Brasil ao casamento da minha primeira estagiária na Suíça que era brasileira e que, ao dia de hoje, já é mãe de duas crianças lindas.

Marta Pimenta de Brito

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

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