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Psicóloga em seis países diferentes: a decisão de partir

Para começar, diria, foi uma maratona. E vou falar-vos um pouquinho sobre o que é que fiz nestes seis diferentes países.

Andei catorze anos no colégio alemão do Porto. Dos quatro aos dezoito anos de idade. Alemão é a minha segunda língua. Aprendi a brincar em alemão. A minha primeira educadora de infância era alemã.

A minha mãe fala alemão e tem ascendência espanhola. Fez o Goethe Institut. O meu pai não fala alemão mas desenrasca em todas as línguas o básico, estilo “Volkswagen”, “Danke schoen”, “Bitte”.

Desde que nasci sempre tive a sorte de viajar com os meus pais e de termos em casa amigos de outros países. Quer ex-colegas da minha mãe, quer clientes do meu pai. Mas diria que a minha verdadeira primeira experiência de interculturalidade foi no colégio quando aos quatro anos os meus pais decidiram colocar-me no colégio alemão.

Aí fui forçada a lidar com uma cultura diferente. Com uma língua diferente. Regras totalmente diferentes. A questão da pontualidade, o rigor no trabalho, a comunicação oral, etc.

Durante esses catorze anos tive muito aquela cultura alemã. Cheguei ao fim destes catorze anos e, nós lá fazemos o exame de admissão à Alemanha para a faculdade. Mas achei que não conhecia o meu país. Sentia que o colégio como se fosse um “gueto”. Nós andamos lá catorze anos: os mesmos amigos, as mesmas actividades.

Achava que não conhecia bem o meu país. A realidade do que é que era Portugal. Naquela altura estava muito interessada em conhecer mais sobre o ser humano. Por isso achei que era interessante tirar o curso de Psicologia.

Fui a única do colégio a ir para Psicologia naquele ano. Toda a gente achava que era maluca. Que não ia ganhar dinheiro. Que havia muitos psicólogos no desemprego. E não sei mais o quê.

Mas eu queria apostar na ciência que era a Psicologia, apesar de não ter ninguém Psicólogo na família.

E fui para a Faculdade de Psicologia do Porto. Estive lá cinco anos.

Não posso dizer que foram os melhores anos da minha vida. Não gostei muito. Vi qual era a realidade de uma Faculdade. Uma universidade pública em relação a um colégio privado. O tipo de relações que tinha com as outras pessoas. Pessoas com mentalidades diferentes da minha.

No colégio alemão costumava dizer que éramos muito “chapa quatro”. Pensávamos todos da mesma maneira. Vestíamo-nos todos da mesma maneira. Gostávamos todos da mesma música.

Na faculdade não foi assim. E durante aqueles cinco anos, senti também uma grande frustração.

“Para que é que sei falar fluentemente alemão se não estou a aplicar isso em nada? Não há bibliografia em alemão. Quero ir de Erasmus para a Alemanha e não posso porque não existe protocolo”.

Na altura era tudo um pouco diferente do que é hoje em dia.

E, por isso, quando no meu quarto ano de Psicologia, exactamente, conheci um Professor de Braga, da Universidade do Minho, decidi partir.

Ele na altura estava a trabalhar sobre o Síndrome de Williams e precisava de alguém que soubesse falar alemão. Precisava de traduzir umas páginas da Alemanha.

Então comecei na investigação um pouco nessa brincadeira com ele. A traduzir umas páginas. Ia do Porto ao Minho todas as semanas. Comecei a perceber o que é que era a Investigação.

E um dia disse-lhe: “Ah, eu gostava de ir para a Alemanha, nem que fosse por três meses, pelo menos. Para tentar fazer pontes entre Portugal e a Alemanha”.

Achava que em três meses faria algumas pontes. Ingenuidade da idade.

Marta Pimenta de Brito

Prof. Doutora Marta Pimenta de Brito, Contacto: (+351) 96 0248302; Cédula Profissional Nº 009839; Membro Efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses com 3 especializações: 1. Psicologia Clínica e da Saúde, 2. Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações, 3. Psicogerontologia; Licenciada pela Universidade do Porto em Psicologia – Consulta de Jovens e Adultos; Doutorada pela Universidade de Zurique (Suíça) em Acesso à Saúde Mental; Pós-doutorada pela Universidade de Harvard (EUA) em Retenção de Pacientes; Formação Executiva em Comunicação, Média e Advocacy em Harvard (EUA) e Bruxelas (Bélgica); Elegida por Bruxelas (Bélgica) como uma das “best spokesperson Europe”; Abordagem principal de trabalho: cognitivo-comportamental; Idiomas de atendimento: inglês, alemão, espanhol e português; Temáticas principais: 1. depressão, 2. ansiedade, 3. perda e luto; 4. emigração e imigração; 5. casamento, família e relações intergeracionais; 6. ser solteiro; 7. ser viúvo; 8. conciliação família-trabalho; 9. comportamentos viciantes; 10. isolamento social; 11. transição para a reforma; 12. cuidadores de pessoas com Alzheimer; 13. cuidadores de pessoas com deficiência do desenvolvimento; 14. questões espirituai

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