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Prioridades

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Os animais são nossos amigos, pelo menos alguns. Não são gente. A concessão de direitos aos bichos, que a Esquerda parlamentar nega às pessoas, invertendo prioridades que se julgariam básicas e alienando razões civilizacionais de princípio, no mínimo dá que pensar.

A legislação portuguesa pune como crime o abandono de animais domésticos de companhia. Compreende-se.

Em compensação, um projeto de lei do CDS que criminalizava o abandono e o maltrato dos idosos dependentes e à guarda de terceiros, foi chumbado pelo PS, PCP e BE. Surreal.

A proporção mundial de pessoas com 60 e mais anos de idade aumentou de 9,2% em 1990, para 11,7% em 2013, podendo atingir 21,1% em 2050. Portugal é, na UE, o quinto país com maior índice de envelhecimento. E entre 2013 e 2016, os crimes contra idosos aumentaram cerca de 30%.

Não obstante, a Esquerda que lacrimeja enquanto reclama penas de prisão ou multa para quem maltrate animais, é a mesma que recusa censura penal e consequência sequer equivalente – quanto mais acrescida, como seria suposto, tendo em conta a desproporção dos valores jurídicos tutelados – para quem abandone ou atente contra os direitos dos pais, dos avós ou outros idosos à guarda.

Num argumento particularmente básico, PCP e BE esgrimem com cortes nos salários e pensões decididos pela Direita no passado, para deslegitimação da iniciativa apresentada em defesa dos idosos. Convenientemente, em tempos de “geringonça”, o programa de austeridade que o PS negociou, com imposições para quem veio depois, não se lhes aflora sequer aos neurónios. Não dá jeito nenhum. A conclusão abstrusa que lhe ocorre é que se os velhos já sofreram à mão do Fisco ou da Segurança Social, abandonem-se também ou destratem-se, merecendo menos por isso do que o cão ou o gato que adormecem ao colo em casa.

Mais rebuscado, o PS ensaiou a ideia de que só se justificam “respostas sociais”. O abandono de idosos “exige do legislador que não ceda à tentação de fazer leis que visam incriminar e sancionar quem não tem recursos”. Ou seja, respostas penais só para os animais, credores para o PS de indignação reforçada do legislador. Para os velhos sobra a conversa.

Na sua eloquência, conviria talvez ao deputado do PS ter presente que na base do abandono de animais também pode estar precisamente a falta desses recursos. Só que a consequência na lei é que é muito pior. São as prioridades do PS.

Faltando dinheiro, entre abandonar bichos ou gente, pense bem. Num dos casos, pelo menos pode ir preso.

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