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Portugueses ilustres pelo mundo fora há muitos séculos atrás

Vários portugueses conseguiram obter o reconhecimento pelos serviços prestados e influenciaram muitos setores em países estrangeiros, tais como os jesuítas Tomás Pereira e Manuel Dias Júnior, na China, ou a rainha Catarina de Bragança (foto da sua estátua), na Inglaterra.

“Tomás Pereira é um missionário que, devido às suas competências musicais, às suas habilidades manuais, foi chamado (pela missão jesuítica na China) para se estabelecer em Pequim, onde se desenvolvia toda a parte política daquele país”, disse à Lusa Isabel Murta Pina.

A investigadora, do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), explicou que os jesuítas tentavam entrar na China desde a década de 1550, e depois estabeleceram-se em Macau (administrada por Portugal desde 1557) na década de 1560.

“A partir de 1583 é que os jesuítas vão se instalar na província a que pertence Macau, em Guangdong, e a partir daí vão avançando geograficamente até chegarem a Pequim, em 1601, sendo uma das figuras principais do período o jesuíta Matteo Ricci, durante a dinastia Ming”, sublinhou.

Segundo a investigadora, as missões enviadas para a China “pertencem ao padroado português, ou seja, é o rei português que tem o direito de missão, de enviar missionários e que dá as verbas. Todos os missionários têm de partir de Lisboa, passar por Goa, por Macau e depois para a China continental”.

“Tomás Pereira – que nasceu a 01 de novembro de 1645 em São Martinho do Vale, Vila Nova de Famalicão – chega a Pequim logo no início do ano de 1673, e vai conseguir ao longo do tempo manter relação de proximidade com Kangxi, um dos imperados mais emblemáticos da dinastia Qing, que esteve no poder entre 1662-1722”, disse Isabel Murta Pina.

“É quase como um homem dos sete ofícios. É ele que escreve o primeiro tratado de música europeia em língua chinesa. Além disso, também escreve o primeiro tratado em língua ocidental sobre o budismo chinês, que surgir integrado na obra de outro jesuíta, o Fernão de Queirós, datada de 1688, que só vai ser publicado no século XX esta obra, ‘A Conquista Espiritual do Ceilão’”, referiu a investigadora.

Tomás Pereira, que permaneceu na China por cerca de 35 anos, construía também instrumentos musicais e relógios, entre outras coisas, para a corte chinesa e para as igrejas jesuítas, sendo também professor de música do imperador e dos príncipes imperiais, além de ter feito viagens com o Kangxi.

“O jesuíta vai participar também nas negociações entre a Rússia e a China, fazendo parte do séquito imperial chinês nas negociações do Tratado de Nerchinsk em 1689, tendo uma participação importante neste acordo, tendo ganhado assim uma posição de destaque junto do imperador”, disse.

Segundo Isabel Murta Pina, Tomás Pereira – que nas fontes chinesas da época é chamado de “leal servidor” e “leal cortesão” – foi também o presidente interino do departamento astronómico em Pequim, no qual os jesuítas vão estar à frente durante muito tempo, e é uma figura intimamente associada ao édito de tolerância de 1692 em favor da religião cristã na China.

Outro jesuíta português, Manuel Dias Júnior, que nasceu em Castelo Branco em 1574, chegou a Macau em 1604, entrando na China entre 1610 e 1611.

“É de uma geração anterior à de Tomás Pereira e é particularmente interessante porque publicou em chinês um tratado de astronomia no qual surgem, em apêndice, dois fólios que citam as observações astronómicas de Galileu Galilei feitas por telescópio e publicadas no livro “Sidereus Nuncius” em 1610”, referiu.

“O tratado de Manuel Dias Júnior foi publicado em 1615, em Pequim, apesar do jesuíta ter estado em várias partes da China em missão. Este compêndio de astronomia está a ser trabalhado pelo professor Henrique Leitão (Prémio Pessoa em 2014) e pelo professor Rui Magone, que é sinólogo”, indicou.

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), que é um Instituto Público (IP) ligado ao Ministério da Educação e Ciência, tem um vasto trabalho de pesquisa e documentação sobre as missões jesuíticas na China.

“Já Catarina de Bragança vulgarizou na Inglaterra o hábito de beber chá, que originou o famoso ‘chá das cinco’ inglês, lembrou o professor Paulo Jorge Sousa Pinto, da Universidade Católica Portuguesa.

Catarina de Bragança, que se casou em 1661 com o rei Carlos II de Inglaterra, seria também a responsável pela introdução de vários hábitos de etiqueta na corte inglesa, como a utilização de talheres e ainda a geleia de laranja.

A antiga infanta de Portugal e princesa da Beira, nascida em Vila Viçosa em 1638, “também deu nome ao bairro de Queens, em Nova Iorque, nos Estados Unidos”, segundo o professor, doutor em História.

“Uma estátua sua chegou a ser feita, para ser inaugurada em 1998, mas houve oposição dos afro-americanos e da comunidade irlandesa nos Estados Unidos”, referiu ainda o professor.

Viúva de Carlos II, Catarina de Bragança retornou para Portugal em 1692 e morreu na capital portuguesa em 1705, no Palácio de Bemposta.

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