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Português levou a Paris “cozinha sem Photoshop”

O chef Pedro Lemos, detentor de uma estrela Michelin, apresentou em Paris uma cozinha “sem Photoshop” para “alimentar a alma”, durante uma mostra de produtos portugueses na capital francesa.

“É mesmo para alimentar a alma porque eu acho que tem muito mais valor um prato quando estamos a comer e conseguimos recordar algo ou então, no futuro, recordar, ter uma memória, algo que mexa com o íntimo da pessoa, com a alma. E não mascaramos nada, se tivermos um bom produto não estamos preocupados em desgastá-lo. É um prato sem Photoshop”, explicou à Lusa o chef português.

Pedro Lemos cozinhou à frente do público, na escola de cozinha L’Evenement Gourmet, revelou as suas receitas, falou sobre os seus pratos inspirados na cozinha tradicional portuguesa com um toque contemporâneo e explicou que num restaurante gourmet não se come forçosamente “de pinça” porque é importante respeitar o sabor e a identidade dos produtos.

Como entrada, o chef português preparou uma terrina de cabeça de xara (patê feito com as partes moles da cabeça do porco) com gambas colocadas sobre um caldo de marisco com toucinho, chouriço e vinho branco e cobertas com um molho de cervejaria e pickles.

“Um simples petisco”, descreveu o chef, que deixou perplexos muitos rostos, nomeadamente o de Paula Baía, que tem um site de mercearia gourmet em Paris e que nunca tinha provado o dito petisco e gostou “imenso”.

Depois, preparou cabeças, línguas e lombo de bacalhau, acompanhados com emulsões de salsa e de pimentos assados e polvilhadas com broa de milho de Amarante frita em azeite, “dois produtos de excelência, o bacalhau e o azeite” num evento para promover os produtos portugueses.

“[O objetivo] é conseguirmos mostrar ao público francês e ao mercado francês que temos produtos que podem ser utilizados na gastronomia francesa e produtos de excelente qualidade e que podem realmente ser aproveitados neste mercado”, defendeu Ana Pompeu, técnica do Agrocluster Ribatejo, uma associação de empresas e entidades do ramo agroalimentar que organizou o evento.

Elsa Lopes, residente em Paris e criadora da marca de joias “Le coeur d’Elsa”, gostou “imenso” do chef e “da forma como expôs os produtos” porque “dá valor a produtos super simples que afinal são nobres”.

O “showcooking” continuou com um prato de bochechas de porco preto, lombo de porco preto, puré de cherovia, legumes salteados e guisado de cogumelos ‘marron’ com tomilho “para fazer sobressair os sabores do campo e dar um toque de mato seco”.

Sabores que deixaram nostálgico Vítor Ferreira, a viver em França desde 1975 e durante 26 anos gerente de um restaurante francês em Paris: “A nossa cozinha não está perdida, os nossos sabores não estão perdidos e a sua definição de cozinhar para a alma das pessoas quer dizer isto mesmo, que a alma do povo português está sempre expressa nos nossos valores da cozinha portuguesa.”

Pedro Lemos terminou a sua demonstração com uma sobremesa de arroz doce carolino, com gelado de coco e de yuzo e com uma espuma com coco, yuzo, fava tonca e baunilha, tudo polvilhado com coco ralado.

O chef explicou que a ideia é partir de “uma sobremesa típica” e “homenagear a história da cozinha” portuguesa, dando-lhe “um toque mais contemporâneo” com especiarias e citrinos.

Pedro Lemos reconheceu ainda saber que não há nenhum restaurante gourmet português em Paris, mas sublinhou que “há muitos restaurantes ‘gastronómicos’ em Paris com portugueses a trabalhar” e defendeu que, atualmente, a gastronomia portuguesa “pode ser comparada com as melhores do mundo”.

“Tentámos lutar para vencer no nosso país, já não estamos à procura para sair. Hoje em dia felizmente temos essas condições. Eu posso fazer o meu trabalho, posso ser um chefe conhecido mundialmente e estar na minha cidade natal, não tenho que me deslocar como muitas pessoas tiveram”, afirmou, excluindo a ideia de abrir um restaurante em Paris porque quer “vencer” em Portugal.

Esta tarde, a mostra “Aliments de Portugal – Tradition et Inovation” continua no Consulado-Geral de Portugal em Paris, com a mostra de cem produtos agroalimentares e um “showroom” com cerca de 30 produtos inovadores, em que se incluem sumos, transformados de tomate, mel, arroz, refeições prontas, barras energéticas, vinagres de figo e de mel.

A mostra vai contar com a visita do ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, numa ação realizada no âmbito do Projeto Promotejo, financiado pelo Portugal 2020, no âmbito do Programa Operacional Regional do Alentejo.

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