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Português candidato por partido anti-imigração nas autárquicas britânicas

Discorda dos princípios anti-emigração do UKIP, mas Aurélio Spínola, um português de origem cabo-verdiano, é candidato pelo partido eurocético nas eleições locais de quinta-feira em Great Yarmouth, na costa este de Inglaterra.

O enfermeiro especialista em hemodiálise e antigo presidente da associação portuguesa Portuguese Speakers Network Great Yarmouth (PSNGY) aceitou concorrer por, explicou à agência Lusa, ter hipóteses de ser o primeiro português eleito para a autarquia onde vivem cerca de três mil portugueses.

“Eu aceitei por causa da comunidade portuguesa. O número de pessoas da comunidade portuguesa já justifica ter uma pessoa no município e participar nas decisões locais e proteger a comunidade”, defendeu.

A candidatura já foi motivo de críticas dentro da comunidade, admitiu, mas Aurélio Spínola, de 54 anos e desde 2003 no Reino Unido, promete que mesmo assim pretende defender os interesses dos portugueses.

“Eu não sei quantas pessoas [portuguesas] vão votar, mas independentemente disso, como sou português, eu defendo a minha comunidade. É essa a ideia fundamental pela qual eu aceitei, porque precisamos de ter uma pessoa aqui”, vincou.

O Partido pela Independência do Reino Unido [UK Independence Party, UKIP] foi formado em 1991, fazendo campanha sobretudo pela saída do Reino Unido da União Europeia e pela redução da imigração no país.

Nos últimos anos ganhou popularidade e elegeu muitos representantes no Parlamento Europeu, em autarquias e, no ano passado, pela primeira vez, um deputado para a Câmara dos Comuns.

Atualmente, em coligação com o partido Conservador, governa o município de Great Yarmouth.

Aurélio Spínola, que nasceu na ilha Brava, em Cabo Verde, mas viveu 14 anos em Portugal, onde estudou ciência política, admitiu que chegou a ser próximo do partido Trabalhista, do qual também recebeu um convite para concorrer às eleições.

“Não gostei da forma como eles tratam os estrangeiros. Oferecem uma candidatura, mas em lugares inelegíveis, é só para inglês ver”, lamentou, aludindo ao eleitorado conservador de grande parte da região.

O convite do UKIP por parte de um amigo militante, interessado pelo seu perfil de membro ativo na sociedade local: no ano passado foi finalista não vencedor para o Prémio da Comunidade Segura de Norfolk [Norfolk Safer Community Awards].

Mostrou-se desconfiado devido aos princípios anti-imigração do partido, mas aceitou reunir com responsáveis regionais e, por fim, aceitou a proposta de integrar as listas com estatuto independente, o que lhe dará liberdade de voto.

Impôs também como condição não participar na campanha do referendo de 23 de junho, para o qual o UKIP está ativamente a fazer campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Recusou por entender que este cenário terá impacto na liberdade de circulação dos europeus, incluindo dos portugueses que vivem nesta região, onde trabalham sobretudo em fábricas de processamento alimentar.

Aurélio Spínola é candidato pela circunscrição de Nelson [Nelson Ward], onde reside, e que descreve como sendo uma das áreas mais pobres da cidade, com um elevado nível de desemprego, baixa escolaridade e dependência de subvenções sociais.

Apesar de ali viverem também muitos portugueses, admite que alguns já lhe disseram preferir votar Labour “porque eles defendem os imigrantes”.

Por outro lado, notou, a taxa de participação eleitoral dos imigrantes é muito reduzida: só cerca de oitenta entre cerca de três mil terão votado nas eleições mais recentes.

Mesmo assim, está otimista, pois tem recebido apoio de vizinhos e de habitantes da cidade e, revelou, conseguiu um número elevado dos votos postais que já foram recebidos e contados.

“Eu quero mais investimento nesta área da cidade. Até agora, só foi feito investimento na parte turística. E quero ver mais pessoas e jovens da nossa comunidade portuguesa a fazer estudos superiores e representados nos serviços públicos”, reivindicou.

Ser eleito, acrescentou, seria também importante porque abriria um “precedente para os jovens [de origem portuguesa] saberem que podem e têm o direito de ser eleitos”.

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