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Portugal conquista a China pelo estômago

Na City Shop de Fangcaodi, em Pequim, Portugal já não é só o pastel de nata, a iguaria do país mais conhecida na China, cujo nome (“pu shi dan ta”) significa tarte de ovo ao estilo português.

Percorrendo com atenção as prateleiras daquele supermercado, encontra-se bolachas, conservas, sumos, azeitonas, chocolates, azeite e outros produtos importados de Portugal, que não se veem nas lojas onde a maioria da população chinesa se abastece.

Na secção de vinhos, há marcas de mais de uma dúzia de países, da França à Austrália. Mas de Portugal – “mei you” (não há).

A própria empregada estranha a situação: “Não sei porque é que não há. Deveria haver”, diz, salientando a afinidade sonora entre as expressões chinesas para Portugal (“Pu tao ya”) e vinho (“pu tao jiu”).

Os primeiros carateres, “pu tao” (uva), são iguais e poderiam favorecer o marketing das marcas portuguesas.

Sedeada em Xangai, a mais cosmopolita cidade da China continental, a City Shop é considerada a maior cadeia chinesa de supermercados especializada em produtos importados.

Cerca de 80% do que está à venda nos seus 12 estabelecimentos (dez em Xangai e dois em Pequim) vêm de mais de vinte países de vários continentes, da Europa à Oceânia.

A clientela é constituída sobretudo por quadros estrangeiros e as novas famílias ricas chinesas, cujos gostos acompanham a rápida internacionalização da China.

Também neste aspeto, a China já não é “a sociedade sem classes” enaltecida pela propaganda oficial das décadas de 1960 e 1970.

A City Shop de Fangcaodi, aberta há menos de dois anos, fica no 1.º piso de uma alta pirâmide de aço e vidro transparente chamada Parkview Green, com dezenas de lojas e restaurantes, um hotel, salas de cinema, escritórios, uma galeria de arte e um stand de automóveis elétricos.

Uma garrafa de meio-litro de “azeite extra virgem” português custa 88 yuan (13,5 euros) – cinco vezes mais do que o salário mínimo à hora em Pequim.

A cerveja importada de Portugal também não é barata: 12,9 yuan (2 euros), o que corresponde ao triplo de uma marca chinesa.

Uma lata de “conserva de bacalhau com azeite e alho”, com “um gosto bem português”, chega aos 57,8 yuan (9 euros).

Para os cerca de 120 portugueses residentes em Pequim, descobrir num supermercado local produtos com embalagens a dizer “tomate 100% português”, “sardinhas em azeite” ou “feijão frade” tem um sabor especial.

O alvo do setor agroalimentar português é, contudo, a emergente classe média chinesa. No conjunto, são dezenas de milhões de pessoas, com crescente poder de compra e uma moeda que desde 2008 valorizou cerca de 40% em relação ao euro.

Nos últimos três anos, as exportações portuguesas para a China mais do que duplicaram, ultrapassando os 1.600 milhões de dólares em 2014.

Embora o setor automóvel e as “matérias-primas e processadas”, nomeadamente os veículos fabricados na Auto-Europa, o cobre, a cortiça e o mármore, continuem a representar quase dois terços daquele valor, os têxteis, calçado, mobiliário e agroalimentar estão a crescer acima dos dois dígitos.

Em Pequim ou Xangai, o pastel de nata está muito difundido, mas, como quase tudo, é “made in China”.

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