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Palavra dada, palavra honrada, uma treta. O Governo não tem palavra; ponto. Mais grave, impressiona perceber que a palavra – que houve tempos definia homens de bem valendo mais do que uma escritura – seja agora dada e incumprida pelo primeiro dos governantes como se nada fosse e não valendo um cêntimo, grande parte dos portugueses não se importe nada com isso. Não é realmente normal.

O Infarmed é só mais um exemplo que pelo peso, pelo tom, pela arrogância posta pelo primeiro-ministro no discurso em resposta aos adversários políticos na Assembleia da República, assumindo compromissos perante um país inteiro que depois levianamente traiu, revela como poucas vezes o relativismo moral com que, a propósito do que deveria ser primordial, se desvaloriza o que não podia ter perdão.

Questionado mais uma vez, depois de tantas outras, sobre a mudança do Infarmed, António Costa levantou a voz para responder: “Eu creio que vou repetir pela terceira vez aqui; a decisão do Governo é que o Infarmed vá para o Porto. Percebeu? Vou dizer uma quinta vez. A decisão do Governo é que o Infarmed vá para o Porto. Está claro agora?”.

Uma, duas, três, quatro, cinco vezes, o primeiro-ministro pronunciou a decisão. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes faltou à verdade. Fosse essa verdade encarada como um valor digno desse nome, no dia seguinte António Costa estaria nos bancos da Oposição, de onde nunca deveria ter saído, porque perdeu as eleições. Em Portugal, ao invés, adorna o incumprimento com a habilidade saloia de que afinal será o Parlamento a decidir e não só não se passa nada, como não faltará quem lhe dê a mão.

Não está em causa se o Infarmed deve ou não sair de Lisboa. Abundam argumentos a favor e contra… Transtornos de vidas organizadas há anos na capital, casas compradas ou arrendadas por quadros e trabalhadores, compromissos assumidos, rotinas de filhos em escolas, tal qual as garantias dadas ao Porto e ao Norte em relação à mudança que o Governo garantiu e anunciou porque quis, num suposto esforço de descentralização corretor da macrocefalia endémica que há décadas concentra tudo, ou quase, numa só cidade.

Em causa está, isso sim, a leviandade e a ligeireza com que no Governo se decide sobre assuntos sérios e estratégicos que afetam vidas e têm impactos nas regiões mas depois se revoga sem réstia de sentido de Estado.

Mais do que um insulto ao Norte, este episódio ostenta toda a miséria de uma triste governação.

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