De que está à procura ?

Colunistas

Óscares 2017 (e a grande gaffe da 89ª cerimónia)

Os Óscares acabam sempre por ser marcantes e ficarem na história, por este ou aquele motivo – pelos vendedores, pelos momentos de espectáculo ou devido a gagues nos discursos. Mas a cerimónia deste ano vai ser sempre recordada pela atribuição final de melhor filme, pelo anúncio do vencedor… errado! Pouco depois das cinco da manhã da madrugada de 27 de Fevereiro, em Portugal, o filme que todos achavam que tinha ganho, viu o Óscar ser-lhe tirado em pleno palco. Por isso, a 89ª cerimónia dos Óscares vai ficar mesmo para a posteridade. Warren Beatty e Faye Dunaway (a pretexto do 50º aniversário do filme “Bonnie & Clyde”, que ambos protagonizaram) apresentaram o último e principal Óscar da noite, o de Melhor Filme, tendo anunciado “La La Land” como vencedor. A plateia toda aplaudiu, os produtores e Damien Chazelle subiram ao palco, e já meio embalados nos discursos de agradecimento, alguém vem avisar que, afinal, o verdadeiro vencedor era “Moonlight”.

Um final trágico-cómico inesperado que acabou por ser centro das atenções de uma cerimónia que talvez tenha sido das mais equilibradas dos últimos tempos. O estreante Jimmy Kimmel foi eficaz e cómico q.b. sem ser pesado. Dotado de um tom justo, algures entre a leveza e a seriedade, hábil na maneira de lidar com as várias questões políticas que se foram levantando no decorrer da cerimónia. Porém, o erro histórico dos Óscares não veio da dupla de actores. Warren Beatty ainda hesitou, mas Faye Dunaway avançou confiante com o nome que lia no cartão: “La La Land”. Infelizmente, não tinha reparado que o envelope correspondia ao Óscar de Melhor Actriz, até todos perceberem que tinha havido uma grande falha… mas o culpado é apenas um. Foi Brian Cullinan quem deu o envelope errado aos apresentadores. A Academia já veio justificar e pedir desculpa.

Nas redes sociais, claro, as piadas e os comentários não demoraram. Ficou assente: esta foi a cerimónia dos Óscares mais insólita de sempre. Desde o concurso Miss Universo de 2015 (que vivera uma situação semelhante) aos Grammys, que não se vi algo assim. As brincadeiras acerca do momento final da 89ª edição dos prémios da Academia norte-americana de cinema sucederam-se e multiplicaram-se…

hbz-oscars-trends-modern-bridal

Felizmente, a grande noite dos Óscares teve outros grandes momentos. Como o desfile inicial na red carpet. Ao todo, são 274 metros de passadeira vermelha, onde centenas de estrelas se passeiam no percurso para o Dolby Theatre, na Hollywood Boulevard, para a tão esperada cerimónia de entrega dos prémios de cinema. E a espetacular abertura, com “Can’t Stop the Feeling”, de Justin Timberlake.

Quanto aos prémios, “Moonlight” lá venceu o Óscar de Melhor Filme, depois de “La La Land” ter sido anunciado como vencedor. Foi uma noite onde tanto um como outro dividiram o protagonismo, apesar de o musical ter arrecadado o dobro das estatuetas – seis contra três. “La La Land – Melodia de Amor”, o musical de Damien Chazelle, partira triunfador para esta 89ª edição dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, com um recorde de 14 nomeações. Não tendo conseguido o pleno, acabou por levar o maior número de estatuetas da noite (incluindo Melhor Actriz para Emma Stone e Melhor Realização para Damien Chazelle). Porém, o vencedor de melhor filme tornou-se um corolário de um ano repleto de vitórias de filmes e figuras negras, quase que a compensar as controvérsias de “Oscars so white” dos anos anteriores. Uma vitória que, contudo, transcende as meras questões de cor da pele. Ao atribuir o prémio máximo a “Moonlight”, a Academia acabou por premiar algo extraordinário. Financiado fora dos grandes estúdios, “Moonlight” foi o menos visto dos nove nomeados a Melhor Filme, bem como o menos convencional. Jenkins, de 37 anos, adaptou, com um elenco pouco conhecido e uma equipa composta de colegas da escola de cinema, a peça inédita “In Moonlight Black Boys Look Blue”, do dramaturgo Tarell Alvin McCraney, filmando no próprio bairro de Miami (Liberty City) onde o realizador tinha crescido. Contado em três tempos diferentes na vida de Chiron (interpretado por três actores diferentes), “Moonlight” torna-se pioneiro de uma vivência que o cinema mainstream nunca tinha abordado: ser-se jovem, negro e homossexual na América actual (para que conste, só o autor McCraney é gay, o realizador Jenkins não).

Portanto, é a primeira vez que um filme com personagens negras e sem abordar o racismo ganha o Óscar de Melhor Filme. E é também a primeira vez que um filme sobre uma personagem homossexual ganha o prémio máximo da Academia. Nem “Filadélfia”, de Jonathan Demme, nem “Milk”, de Gus van Sant ou “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee o conseguiram.

Para além de Melhor Filme, a Academia entregou ainda os galardões de Melhor Argumento Adaptado e Melhor Actor Secundário (Mahershala Ali tornou-se o primeiro muçulmano a receber um Óscar) a “Moonlight”. A Melhor Actriz Secundária coube a Viola Davis (por “Vedações”). Casey Affleck foi distinguido com o Óscar de Melhor Actor Principal, pela interpretação em “Manchester by the sea”, enquanto na categoria feminina foi premiada, como já havia dito, Emma Stone, por “La La Land”.

Fiquem, então, com a lista dos principais vencedores dos Óscares 2017 (a bold):

Melhor Filme
Moonlight
Arrival
Fences
Hacksaw Ridge
Hell or High Water
Hidden Figures
La La Land
Lion
Manchester by the Sea

Melhor Realizador
Damien Chazelle – La La Land
Barry Jenkins – Moonlight
Denis Villeneuve – Arrival
Kenneth Lonergan – Manchester by the Sea
Mel Gibson – Hacksaw Ridge

Melhor Actor Principal
Casey Affleck – Manchester by the Sea como Lee Chandler
Andrew Garfield – Hacksaw Ridge como Desmond Doss
Denzel Washington – Fences como Troy Maxson
Ryan Gosling – La La Land como Sebastian Wilder
Viggo Mortensen – Captain Fantastic como Ben Cash

Melhor Actriz Principal
Emma Stone – La La Land como Mia Dolan
Isabelle Huppert – Elle como Michèle LeBlanc
Meryl Streep – Florence Foster Jenkins como Florence Foster Jenkins
Natalie Portman – Jackie como Jackie Kennedy
Ruth Negga – Loving como Mildred Loving

Melhor Actor Secundário
Mahershala Ali – Moonlight como Juan
Dev Patel – Lion como Saroo Brierley
Jeff Bridges – Hell or High Water como Marcus Hamilton
Lucas Hedges – Manchester by the Sea como Patrick Chandler
Michael Shannon – Nocturnal Animals como Bobby Andes

Melhor Actriz Secundária
Viola Davis – Fences como Rose Maxson
Michelle Williams – Manchester by the Sea como Randi Chandler
Naomie Harris – Moonlight como Paula
Nicole Kidman – Lion como Sue Brierley
Octavia Spencer – Hidden Figures como Dorothy Vaughan

oscars2017

Melhor Argumento – Original
Manchester by the Sea – Kenneth Lonergan
20th Century Women – Mike Mills
Hell or High Water – Taylor Sheridan
La La Land – Damien Chazelle
The Lobster – Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou

Melhor Argumento – Adaptado
Moonlight – Barry Jenkins por In Moonlight Black Boys Look Blue de T. McCraney
Arrival – Eric Heisserer por Story of Your Life de Ted Chiang
Fences – August Wilson por Fences de August Wilson
Hidden Figures – Allison Schroeder e T. Melfi por Hidden Figures de M. Shetterly
Lion – Luke Davies por A Long Way Home de Saroo Brierley e Larry Buttrose

Melhor Filme de Animação
Zootopia
Kubo and the Two Strings
La Tortue rouge
Ma vie de Courgette
Moana

Melhor Filme Estrangeiro
Forushande (Irão)
En man som heter Ove (Suécia)
Tanna (Austrália)
Toni Erdmann (Alemanha)
Under sandet (Dinamarca)

Melhor Animação em Curta-metragem
Piper
Blind Vaysha
Borrowed Time
Pear Cider and Cigarettes
Pearl

Melhor Banda Sonora
La La Land – Justin Hurwitz
Jackie – Mica Levi
Lion – Dustin O’Halloran e Hauschka
Moonlight – Nicholas Britell
Passengers – Thomas Newman

Melhor Canção original
“City of Stars” por La La Land – Justin Hurwitz, Pasek e Paul
“Audition (The Fools Who Dream)” por La La Land – Justin Hurwitz, Pasek e Paul
“Can’t Stop the Feeling!” por Trolls – Justin Timberlake, Max Martin e Shellback
“How Far I’ll Go” por Moana – Lin-Manuel Miranda
“The Empty Chair” por Jim: The James Foley Story – J. Ralph e Sting

Melhor Edição de Som
Arrival – Sylvain Bellemare
Deepwater Horizon – Wylie Stateman e Renée Tondelli
Hacksaw Ridge – Robert Mackenzie e Andy Wright
La La Land – Ai-Ling Lee e Mildred Iatrou Morgan
Sully – Alan Robert Murray e Bub Asman

Melhor mistura de Som
Hacksaw Ridge – Kevin O’Connell, Andy Wright, Robert Mackenzie e Peter Grace
13 Hours: The Secret Soldiers of Benghazi – Russell, Summers, Haboush e Ruth
Arrival – Bernard Gariépy Strobl e Claude La Haye
La La Land – Andy Nelson, Ai-Ling Lee e Steve A. Morrow
Rogue One: A Star Wars Story – David Parker, C. Scarabosio e Stuart Wilson

Melhor Direção de Arte
La La Land – Sandy Reynolds-Wasco e David Wasco
Arrival – Patrice Vermette e Paul Hotte
Fantastic Beasts and Where to Find Them – Stuart Craig e Anna Pinnock
Hail, Caesar! – Jess Gonchor e Nancy Haigh
Passengers – Guy Hendrix Dyas e Gene Serdena

Melhor Cinematografia/Fotografia
La La Land – Linus Sandgren
Arrival – Bradford Young
Lion – Greig Fraser
Moonlight – James Laxton
Silence – Rodrigo Prieto

Melhor Maquilhagem/ Caracterização
Suicide Squad – Alessandro Bertolazzi, Giorgio Gregorini e Christopher Nelson
En man som heter Ove – Eva von Bahr e Love Larson
Star Trek Beyond – Joel Harlow e Richard Alonzo

Melhor Guarda-Roupa
Fantastic Beasts and Where to Find Them – Colleen Atwood
Allied – Joanna Johnston
Florence Foster Jenkins – Consolata Boyle
Jackie – Madeline Fontaine
La La Land – Mary Zophres

Melhores Efeitos Visuais
The Jungle Book – Robert Legato, Adam Valdez, Andrew R. Jones e Dan Lemmon
Deepwater Horizon – Craig Hammeck, Jason Snell, Jason Billington e Burt Dalton
Doctor Strange – Stephane Ceretti, Richard Bluff, Vincent Cirelli e Paul Corbould
Kubo and the Two Strings – S. Emerson, Oliver Jones, Brian McLean e Brad Schiff
Rogue One: A Star Wars Story – J. Knoll, Mohen Leo, Hal Hickel e Neil Corbould

Bastou uma gaffe, e um vencedor em que já ninguém acreditava, para inscrever os Óscares de 2017 na história dos prémios. “Moonlight” foi uma histórica e surpreendente vitória para um filme à margem do stablishment da indústria cinematográfica.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA