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O padre jesuíta que esteve 40 anos ao lado da resistência timorense

O padre José Alves Martins, da Companhia de Jesus, chegou a Timor-Leste cerca de um ano antes da ocupação Indonésia mas optou, sem “nunca” se ter arrependido, por ficar a animar a “fé” e dar “auxílio à resistência”.

“Assumi como convicção que Timor e o povo um dia seriam independentes. A resistência durou 24 anos mas podia durar 50, o povo de Timor jamais aceitaria a integração na República da Indonésia”, disse o sacerdote à Agência ECCLESIA.

Aquando a ocupação do país lusófono o então jovem padre “estava em angústia” mas quando decidiu ficar no país invadido ficou “calmo”: “Refleti, tentei rezar, mas acho que não rezei nada, e decidi ficar”.

“Sentia-me cobarde se abandonava o povo entregue a si mesmo. Nunca me arrependi. Várias vezes senti a irmã morte ao meu lado. Não estou arrependido do que vivi”, comentou.

Aos 33 anos de idade, e depois de ter estudado em Roma, o padre José Alves Martins teve a proposta do seu provincial de “ir a Timor por dois anos”, porque era preciso um diretor espiritual para o seminário diocesano então responsabilidade da Companhia de Jesus.

Segundo entrevistado, que chegou a país lusófono 23 de setembro de 1974, o povo timorense cativa “muito, muito pela sua simplicidade, pela hospitalidade” e por um “carinho especial” que ainda mantém por Portugal, mas que há 42 anos “tinha mais relevo”.

Quando Timor-Leste foi ocupado, alguma população e militares fugiram para as montanhas, onde foi organizada a resistência timorense, que fez um “trabalho heroico de luta armada” e quem ficou nas cidades e aldeias “lutou através e com a sua fé em Deus”.

“O trabalho da Igreja foi fundamental no processo da independência de Timor. Se não fosse o papel da Igreja e um certo jogo, certamente que nunca seria independente”, observa o padre jesuíta que durante 24 anos animou a fé do povo e aliava o ministério de diretor espiritual ao “ajudar a guerrilha” armada nas montanhas, “com grande risco”.

O padre José Alves Martins recordou que ajudou a guerrilha, já sob o comando de Xanana Gusmão, a montar um rádio nas montanhas, um episódio que foi “um risco”, dado que “no mínimo” podia ter originado a sua expulsão ou mesmo levá-lo a ser morto.

A pedido de uma família, o sacerdote escondeu no seminário um rádio transmissor, que transportou demonstrado em peças, depois de ter conseguido passar pelos postos de controlo em Jacarta e Díli sem ser descoberto.

O sacerdote recorda também que durante um período da ocupação indonésia, graças a um programa de encriptação, conseguiu enviar mensagens a grupos de Direitos Humanos em Londres e em Portugal.

Atualmente, segundo o religioso, a Igreja continua a sua missão como antes mas tem de “intensificar a formação dos cristãos, sobretudo a juventude”.

O padre José Alves Martins observa ainda que no tempo da resistência havia “uma unidade muito grande” entre o povo que lutava pela independência e considera que falta escrever sobre o que se viveu, para que a memória não seja esquecida.

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