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Nem dados os quiseram

 

No início deste século, por designação do diretor de “Notícias de Gaia”, entrevistei figuras ilustres da cidade onde vivo.

Certa ocasião visitei poetisa que vivia à beira-mar, numa casa com sobrado. Recebeu-me com largo sorriso e convidou-me a acompanhá-la numa chávena de chá e bolo, que acabara de sair do forno.

Decorrido largos meses, retiniu o telefone – terrim, terrim… – Levantei o auscultador e ouvi voz feminina, informando que acabara de publicar um livro de poemas e que reservara-me um exemplar, pelo preço de vinte euros.

Esclareci-a, que apesar de apreciar a sua poesia, não podia adquirir todos as obras, de todos os escritores e poetas que entrevistava.

Amuou. Nunca mais a vi.

O exórdio vem a propósito do que ouvi, a semana passada, pela boca de amigo:

Falecera-lhe o senhor seu pai. Entre os largos bens que deixou, contavam-se livros que publicara, de colaboração com conhecida editora.

Repartiram os bens, e em respeito ao pai, assentaram oferecer as obras que sobraram, por familiares e amigos.

Os parentes, muito agradecidos, recusaram, porque tinham muitos livros…

Perguntando se não queriam exemplares, já que estavam novos, para oferecer, responderam (envergonhados,) que: não.

Contactaram, então, amigos e conhecidos. Esclareceram que já possuíam alguns exemplares das obras, e não conheciam a quem pudessem interessar.

Senhora, admiradora do autor, que solicitava a oferta de exemplar, sempre que saíam do prelo, balbuciando, argumentou:

– “ Como sabe, tenho alguns livros dele. Já leio pouco e a maioria das minhas amigas, têm livros só para encher estantes…”

Resumindo:

Todos admiraram o escritor, o intelectual, enquanto viveu; assim acontece com quase todos os escritores e poetas Se são importantes e têm nome feito, na hora do funeral, comentam: – que foram amigos do defunto e contam, curiosas cenas ocorridas com eles – principalmente se está presente a mass-media.

Se é ilustre desconhecido, muitas vezes, nem aparecem e depressa o esquecem…

Descendente do autor, chegou a sugerir – segundo me contou, – que vendessem os livros ao farrapeiro ou os queimassem…

Todavia, quando frequentava a Universidade, orgulhava-se de ser bisneta do jornalista X. Homem conhecido e respeitado na sua cidade.

É a vida…

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