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Morreu o pai da unidade alemã

Políticos de todo o mundo apreciam a obra de Helmut Kohl. As bandeiras da UE em Bruxelas encontram-se penduradas a meia haste. Apesar de divergências nalguns pontos da política, a Alemanha toda honra o seu grande homem e político; morreu com 87 anos, um estadista alemão e europeu, talvez o último de uma geração de políticos que ainda tinham grandes visões. Kohl foi chanceler desde 1982 até 1998.

Foi um amigo de Portugal fomentando a sua entrada na União Europeia (1986) e criticando um certo rigor de Angela Merkel para com os países do Sul.

Helmut Kohl parece ter tido como mote da sua vida uma frase que um dia disse: temos que saber “aonde se pertence e para onde se quer ir.” No verão de 2011, disse: “Nós já tínhamos estado muito mais longe na Europa “e queixou-se que a Alemanha já não era uma “grandeza previsível„! Disse isto num desabafo contra a chanceler Angela Merkel, que tinha acusado “países como a Grécia, Espanha e Portugal” de mandarem os seus funcionários mais cedo para a reforma e de “deixarem ir muito tempo de férias.” A grande visão de Kohl era realizar a união europeia, pensando que, com a introdução do Euro, tornava a União irreversível. Mitterrand tinha medo da Alemanha unida, mas, a contrapartida da introdução do Euro oferecia-lhe uma certa segurança. O facto de Kohl ter usado o euro como instrumento para impor a união europeia terá sido uma visão corajosa que no momento é mais vista como ousadia. Facto é que Jean Monnet, Jacques Delors e Helmut Kohl foram os maiores no serviço da cooperação europeia deixando um grande legado à Europa.

Em Verdun, Mitterrand estendeu a mão a Kohl!  O gesto simbólico da reconciliação de 1984, em que Kohl e Mitterrand se apresentam de mãos dadas, ficou na memória europeia. Na batalha de Verdun, dos dois milhões de soldados morreram 700.000 e entre eles o irmão mais velho de Kohl . A amizade de Mitterrand e Kohl levou Kohl a chorar em Paris, aquando do enterro de Mitterrand. O aperto de mão de Verdun como símbolo político tem o mesmo peso que o ajoelhar de Willy Brandt em Varsóvia.

Aquando da revolução pacífica na Alemanha Oriental em 1989, Kohl percebeu, que a porta estaria aberta apenas por pouco tempo para a unidade alemã. Sob alta pressão, negociou com os líderes dos Estados Unidos, da União Soviética, da Grã-Bretanha, da França e com os líderes da União Europeia, as modalidades da união das duas Alemanhas.

A chanceler alemã Angela Merkel, de visita ao Papa Francisco, ao saber da morte de Kohl, também se referiu a Helmut Kohl como “personalidade alemã e europeia de grandeza histórica”; ele foi “um lance de sorte„ que se aproveitou da hora benévola para a união das Alemanhas e que “isto foi a maior arte do Estado ao serviço das pessoas e da paz”;  Merkel confessou também: „Helmut Kohl também mudou a minha vida de forma significativa.” De facto, ele foi o seu grande promotor.

O presidente francês Emmanuel Macron escreveu em alemão: Kohl é o “pioneiro da Alemanha unida e da amizade franco-alemã: com Helmut Kohl perdemos um grande europeu”.

Em abril 2016, Kohl recebeu em casa em Oggersheim o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban.

Não há luz sem sombra. Kohl foi um grande estadista no actual sistema europeu; no seu corrículo fica com uma mancha escura: o caso da doação ilegal de 2,1 milhões de DM ao partido da CDU, para o qual Kohl tinha criado uma “conta bancária preta” à margem dos registos. Nunca revelou os nomes dos doadores, argumentando que lhes tinha dado a sua palavra de honra. Kohl, que tinha negligenciado a família em benefício do partido CDU, viu então o partido romper com ele; na sequência Kohl renunciou ao cargo de presidente honorário do CDU.

Helmut Kohl, com George H. W. Bush e Michael Gorbatchov foram os pais da unidade alemã e do fim da guerra fria.

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