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Metade dos professores portugueses sofrem de esgotamento

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A Universidade do Algarve e a Universidade de Évora apresentaram, na semana passada, os resultados da «maior investigação de sempre» sobre stress, motivação e saúde dos professores em Portugal. Este estudo contou com a participação de cerca de 15 mil docentes.A sessão de apresentação dos resultados decorreu em Évora e contou com a presença de José Verdasca, coordenador do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, Adelinda Candeias, professora associada da Universidade de Évora, participando ainda por videoconferência Saúl Neves de Jesus, vice-reitor e professor catedrático da Universidade do Algarve. Nesta sessão pública estiveram ainda representantes de sindicatos, escolas e associações profissionais.

José Verdasca salientou a importância da valorização social da profissão de professor como condição fundamental para o bem-estar e a qualidade da educação. Segundo a Universidade do Algarve, o responsável salientou ainda «a importância dos resultados obtidos em estudos anteriores que salientam a maior intensidade da expressão de afeto e gosto pelos professores por parte dos alunos portugueses, quando comparados com alunos de outros países europeus. No entanto, esses mesmos alunos portugueses, quando questionados sobre a sua intenção de virem a ter a profissão docente, apenas 1% admite essa possibilidade para o seu futuro».

Já Saúl de Jesus realçou a importância dos resultados obtidos na investigação, a partir dos quais «podem ser delineadas estratégias de intervenção nos planos político, formativo e organizacional, que possam contribuir para prevenir os elevados níveis de stress, exaustão e desmotivação dos professores portugueses». Acrescentou que «este tema é da maior importância desde há vários anos».

Por seu turno, Adelinda Candeias «destacou a importância dos resultados como ponto de partida para uma intervenção junto dos professores que ‘trate’ e previna o stress e promova a saúde e o bem-estar profissional e pessoal da pessoa que é o professor. Uma intervenção que deve ser diferenciada, de acordo com as necessidades dos professores e os indicadores de saúde que apresentam, à semelhança do que se faz, por exemplo, na Alemanha e na Espanha, onde programas de gestão de stress e de promoção da saúde estão a ser testados com sucesso».

Entre os principais resultados obtidos neste estudo, a Universidade do Algarve destaca que, «numa amostra de 12 158 professores portugueses, 52.4% percecionam bem-estar do desempenho da sua atividade profissional, 50.2% sofrem de esgotamento, 26.9% de distúrbios cognitivos, 32% de distúrbios músculo-esqueléticos e 27.9% de alterações na voz».

Segundo a academia algarvia, «verificou-se ainda que os resultados obtidos nas várias dimensões de saúde dos professores portugueses são, na sua generalidade, inferiores aos dos espanhóis, observando-se maiores diferenças nas dimensões bem-estar e esgotamento».

As análises realizadas «permitiram definir três níveis de intervenção diferenciados, de acordo com o índice de saúde. Um primeiro nível onde 24.4% dos professores apresentam baixos resultados e cuja intervenção a realizar deve ser, essencialmente, ao nível do tratamento dos problemas diagnosticados e de promoção do bem-estar; um segundo nível (saúde média), com 45.2%, onde se deve incidir com intervenção preventiva; e um terceiro nível (saúde alta), com 30.4%, que evidenciam um grupo de professores resilientes, envolvido na sua profissão e que experienciam bem-estar, e que, como tal, deverão ser mais bem investigados no sentido de ajudar a identificar modelos promotores de bem-estar e resiliência na profissão docente», revela a Universidade do Algarve.

De acordo com o mesmo estudo, «encontram-se mais professores portugueses no índice de saúde mais baixo e menos nos índices médio e alto, quando comparamos com os professores espanhóis».

Os resultados indicam também que «os professores do ensino público, do 2º e 3º ciclo, e secundário, do género feminino, com mais de 50 anos e 20 de serviço são os que apresentam menor bem-estar e mais problemas relacionados com as dimensões de perda de saúde e, sobre os quais devem incidir urgentemente um programa de intervenção de primeiro nível».

Este estudo revela ainda que «o principal preditor da baixa saúde dos professores portugueses é a exaustão; 24,4% dos professores portugueses apresenta baixos resultados no índice de saúde profissional, enquanto em Espanha se haviam verificado 20% dos professores nesta situação».

No estudo sobre mobbing/assédio no trabalho, com 2003 professores, 22,5% dos professores têm consciência que sofrem com este fenómeno. No entanto, 75,1% dos professores assinalaram pelo menos um item da escala de mobbing, mas não reconhecem estar a ser vítimas.

Em média, «os professores relatam 9 condutas de mobbing no local de trabalho. As condutas de agressão mais verificadas inserem-se no bloqueio à comunicação (47%), ou seja, condutas que não deixam provas físicas. Dos professores que referem ter sido vítimas de mobbing, 83% consideram que tal teve consequências na sua saúde e desses, 59% recorreu pelo menos uma vez por ano ao atestado médico e 19 % recorreu pelo menos duas vezes», diz o estudo.

Já o estudo relativo à influência de variáveis organizacionais, individuais e pertencentes à interface sujeito-organização, demonstrou que «a relação entre a satisfação no trabalho e o desejo de permanecer na escola é parcialmente explicada pela identificação psicológica dos docentes com o estabelecimento de ensino», que «a combinação das perceções sobre a avaliação de desempenho e a justiça organizacional facilitam os recursos psicológicos positivos dos docentes (autoeficácia, resiliência, otimismo e esperança)», que «a associação entre uma cultura de suporte (focada nas relações interpessoais e caracterizada por uma comunicação aberta) e o funcionamento da escola fomentam a satisfação laboral», que «a relação entre o clima da escola e o seu funcionamento contribui, igualmente, para uma maior satisfação no trabalho» e que, «quando os docentes se sentem justamente tratados pela sua escola e o funcionamento desta é visto como eficaz, vai surgir uma maior identificação psicológica com o estabelecimento de ensino e uma maior satisfação com as tarefas desempenhadas».

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