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Memória de Marcelo Caetano continua presente em ruas de Sintra e Cascais

A memória de Marcelo Caetano continua presente em duas ruas de Sintra e Cascais e, apesar de ter havido tentativas de alterar o nome de ambas, os moradores mostraram-se contra, alegando ser mais pragmático manter a designação atual.

No Alto de Colaride, na freguesia de Agualva, em Sintra, o último Presidente do Conselho de Ministros do Estado Novo, Marcelo Caetano, dá nome a uma rua com cerca de dez casas, designação que foi atribuída pelos moradores “à revelia do município”, explicou à Lusa o presidente da União de Freguesias de Agualva e Mira Sintra, Carlos Casimiro (PS).

“A rua, de facto, mantém a atribuição do nome de Marcelo Caetano, mas de direito nunca foi legalizada por parte do município de Sintra”, advogou.

Em 2009, a então Junta de Freguesia de Agualva (PSD) propôs à Câmara Municipal de Sintra que oficializasse o nome do arruamento, mas o documento foi vetado pelo BE, CDU e PS e, “desde então, ficou em ‘stand by’”, explicou Carlos Casimiro.

O autarca acrescentou que a CDU apresentou, na altura, uma moção “para outros nomes”, que foi remetida para a Câmara de Sintra, mas “ficou na gaveta”.

Questionado sobre a possibilidade de a União de Freguesias voltar a pedir à autarquia para legalizar o nome da rua, mediante pedido dos moradores, Carlos Casimiro considerou que a decisão teria de ser bem ponderada por se tratar de um antigo governante do Estado Novo.

“Teríamos de ponderar. É verdade que a junta de freguesia representa os cidadãos. Sou igualmente sensível ao facto de os moradores poderem ter o seu património afetado pela alteração do nome da rua. Por outro lado, sou socialista, sou democrata, sou republicano”, explicou, elencando que teria de ponderar entre “o número de habitantes [a pedir para a legalização com este nome]” e “um sentimento pessoal, enquanto autarca”.

Carlos Casimiro considerou, contudo, que o eventual pedido será feito “por comodismo” e não por afeto a Marcelo Caetano, uma vez que “as certidões das habitações estarão registadas com o nome Marcelo Caetano e qualquer alteração obriga [também] à alteração das cadernetas prediais”.

A poucos metros da placa colocada ilegalmente pelos moradores, Jorge Pereira, de 58 anos, contou à Lusa o arruamento inicialmente se chamava Rua de Colaride Moinho Velho da Tapada, mas mudou “por altura do 25 de Abril”.

A viver há 44 anos na Rua Professor Marcelo Caetano, o morador disse que do grupo de pessoas que renomear o arruamento “já não está cá ninguém”, mas recorda que, “como era um nome de um antigo ditador”, a autarquia não quis “legalizar a rua”.

Para o morador, o “benefício maior era legalizar a rua e atualizar os números de moradores”, referindo que há problemas “em questões de correio e de encomendas”.

“Para as pessoas que vivem agora aqui, não interessa se é do Marcelo Caetano ou do Joaquim”, vincou, acrescentando que o número de moradores atual no arruamento “não enche os dedos” da mão.

Apesar desta situação, os Correios de Portugal (CTT) garantiram à Lusa que “têm o registo da morada referida, onde a entrega de correio se processa com normalidade”.

O antigo governante do Estado Novo também dá nome a uma rua em São Domingos de Rana, no concelho de Cascais, a cerca de 20 quilómetros da homóloga em Sintra.

Eduardo Rebelo, de 81 anos, vive a meio da rua e foi um dos moradores que a batizou.

À Lusa, disse que escolheu o nome Professor Doutor Marcelo Caetano com um vizinho, dono de uma serralharia e que precisava de designar a nova rua, que até então “estava em terra batida”.

“Um amigo meu disse que ia colocar Marcelo Caetano. Não sei se foi antes do 25 de Abril ou se foi mesmo após”, afirmou, acrescentando que “houve polémica [na altura] porque um dia chegou lá um grupo de comunistas que tentou roubar a placa e ele não deixou”.

O morador disse que “até à data nunca ninguém quis mudar o nome da placa”, elencando que Marcelo Caetano merece “estar na História” porque “foi um dos grandes homens da nação”.

Mais acima, onde a Rua Professor Doutor Marcelo Caetano dá lugar à Rua 25 de Abril, Joaquim Sousa, dono de uma loja, recordou que a autarquia já tentou alterar o nome, mas os moradores insurgiram-se contra “e até hoje não vieram mudar”.

O comerciante de 75 anos disse ser adepto de Marcelo Caetano, advogando que, “se há reformas, pode-se agradecer a ele”, mas a intenção de manter a rua prende-se com razões económicas.

Joaquim Sousa explicou que a alteração do nome iria levar a mudanças como os endereços de correio, os registos dos automóveis e cartas de condução, entre outros e até hoje não ouviu ninguém dizer que o nome da rua “não está bem”.

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