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Meio-termo

Assinalou-se ontem um mês da minha chegada ao Luxemburgo. Consequentemente, faz hoje exatamente o mesmo tempo que comecei a relatar aqui as minhas experiências e a minha visão do país que escolhi para ter esta aventura. Sendo mais preciso, mesmo correndo o risco de desiludir alguns leitores, não fui eu que escolhi o Luxemburgo. No fundo, foi um processo um tanto ao quanto aleatório que, no fim, acabou comigo a saber que o destino que me tinha saído em sorte tinha sido este país.

Como português e como estudante de Erasmus, o Luxemburgo torna-se um país bastante peculiar. Bem diferente de realizar a mesma experiência em qualquer outro destino. Ao fim de um mês, sinto-me no Luxemburgo meio residente, meio visitante.

Passando a explicar, comecemos pela parte do visitante. Do que vou observando e das experiências de pessoas próximas, quando um estudante vai de Erasmus, apesar de toda a experiência e desafio daí inerente, nunca está realmente integrado no meio. Por vezes, é até bastante comum, os estudantes de Erasmus voltarem dos seus destinos sem se relacionarem com pessoas do país para onde foram. Na verdade, é fácil para o estudante viver numa espécie de redoma da qual não necessita de sair.

Desde que vivo aqui em Esch-sur-Alzette que sinto claramente o que acabei de referir. Nas residências universitárias vivem, à partida, estudantes na mesma situação que nós. Dessa forma, a experiência multicultural e a partilha de estilos de vida são muito enriquecedoras e extremamente benéficas. No entanto, não permite perceber como é viver no país onde se está a realizar o período de estudos. Arrisco dizer que viver numa residência no Luxemburgo, em Portugal ou noutro país qualquer será, com algumas alterações de pormenor, algo bastante idêntico.

Por acréscimo, também as Universidades são espaços bastante idênticos entre si. Poliglotas, inovadoras e com a globalização bem patente. A níveis de estudos, sem dúvida que é uma enorme vantagem essa uniformização de conteúdos e formas de lecionar. Porém, para efeitos daquilo que quero aqui expressar, também não será na Universidade que um estudante irá sentir-se parte integrante de um país.

Assim sendo, tal como quero demonstrar, torna-se simples para um estudante adquirir uma rotina na qual estará grande parte do tempo rodeado de pessoas e em locais algo distantes da realidade do país onde se encontra. Tal como já referi, sem dúvida que este facto terá inúmeras vantagens, não sendo, porém, o conhecimento do país como habitante do mesmo uma delas.

Passando para a minha outra metade, essa só existe por esta experiência se estar a realizar no Luxemburgo e, mais concretamente, em Esch. O facto de ser português neste país permite-me que, numa ligeira medida, esteja mais próximo de ser residente aqui do que um outro qualquer estudante de Erasmus.

Desde que aqui estou, já me aconteceu de tudo um pouco. No início, quando entrava num café, não sabendo falar francês, falava em inglês. Este facto deu azo a alguns momentos cómicos. Desde logo, pelo simples facto de dois portugueses estarem a ter uma conversa em inglês que só terminou quando fui questionado acerca de como era a vida lá na “América”. Após esta experiência, comecei a arriscar o português logo de início e posso dizer que a taxa de sucesso tem sido bastante satisfatória.

Mas passando a parte da língua à frente, o facto de estar a realizar Erasmus no Luxemburgo está igualmente a permitir-me conhecer pessoas completamente dispersas e aprofundar essas relações o que, suspeito eu, não é assim tão comum num estudante de Erasmus. Até ver, o maior exemplo disso mesmo é ter começado a escrever no Bom Dia desde que aqui cheguei. Essa experiência, para além da escrita que me apaixona, permitiu-me também contactar com diversas pessoas que vivem cá. Pessoas que me enquadraram e transmitiram ideias. Mas não só. O fator nacionalidade permite-me igualmente alongar-me com o senhor do café e perceber um pouco mais do país através dele, tal como me permite ir ao supermercado e reconhecer produtos que, obviamente, não iria encontrar noutros destinos.

Apesar da maior proximidade, é claramente percetível que não sou um português da comunidade. Naturalmente, percebe-se que sou um novato nestas andanças e que estou cá, pelo menos para já, de passagem.

Como comecei por dizer, passado este primeiro mês, sinto-me claramente ainda de visita. Porém, uma visita mais profunda do que aquilo que considero normal num estudante de Erasmus. À primeira vista, esta dificuldade em definir claramente quem sou e onde pertenço aqui, poderia ser um entrave e uma dificuldade à integração. Na prática, não é isso que está a acontecer. Pelo contrário, penso estar a retirar mais frutos desta experiência precisamente devido a esse fator.

Na realidade, a grande vantagem desta divisão é que permite multiplicar as experiências.

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