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Liberdade

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Não falta em Portugal quem celebre o 25 de Abril a gritar liberdade de cravo ao peito, enquanto recusa censura ao regime que na Venezuela oprime e prende quem se opõe, portugueses também, por simples delito de opinião. Basicamente são os mesmos que daqui a meses repudiarão o legado do 25 de Novembro, agastados contra aqueles que em 1975 libertaram os portugueses de perversões que, 42 anos depois, ainda encontram, saudosos, na república dita bolivariana, sequestrada pelo deliro marxista-leninista.

Uma só data tem servido, em cada ano, de pretexto para a tentativa de conciliação, necessariamente impossível, de opostos que se assumem. De um lado, os que revisitam nostálgicos 19 meses da deriva que entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975 quis consagrar em Portugal uma ditadura ao bom estilo soviético. Do outro, a enorme maioria que felizmente festeja porque o PREC morreu, o muro de Berlim caiu e de cada vez que Maduro discursa, transmitido por órgãos de Comunicação Social que só o regime controla, percebe que não fosse a coragem dos verdadeiros democratas, Portugal hoje também poderia ser assim.

Nessa medida, a “geringonça” é realmente surpreendente. Une antagonistas à volta do poder, em alianças assentes no esforço pela defesa de destinos simplesmente incompatíveis. A maioria, vendida como estável e duradoura, junta europeístas saídos do Largo do Rato, supostamente respeitadores de regras básicas das economias de mercado, aos representantes da extrema-esquerda mais ortodoxa, que rejeita o euro, apouca a União Europeia e sonha com as virtudes das economias planificadas. Dizem que é tudo normal. A ambição pode ser um cimento poderoso, principalmente se as razões de princípio servem para quase nada.

Há semanas, em Estrasburgo, apesar das imagens de mendicidade nas ruas, de padarias sem pão, de farmácias sem medicamentos, de racionamentos de energia e água e das detenções violentas de opositores ao regime, um eurodeputado comunista português discursou para dizer que na Venezuela o desemprego caiu 10%, os níveis de pobreza diminuíram, a subnutrição infantil foi reduzida e a fome acabou. Trata-se de quem repete que em Portugal os direitos dos trabalhadores são cerceados, o patronato oprime e Bruxelas impõe políticas de exploração e empobrecimento.

Acreditar numa espécie de universo paralelo, só possível à conta da confabulação mais delirante, também é um exercício de liberdade. Parece que até rende votos. Valha-nos alguma lucidez.

25 de Novembro sempre, PREC nunca mais.

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