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Investimento de português emigrado causa polémica em Cantanhede

O futuro diretor do Biocant de Cantanhede, Carlos Faro, diz que o privado que vai investir no setor da biotecnologia em Portugal é “um português da diáspora”, mas nega que os fundos provenham de um grupo israelita.

Em junho de 2017, a autarquia de Cantanhede aprovou por unanimidade a celebração de um contrato-promessa para alienação de dois edifícios e dois terrenos do Biocant à Green Innovations – o parque é detido por duas associações, nas quais o município de Cantanhede detém a larga maioria das participações sociais, acima dos 97% e 99% – no valor total de 4,225 milhões de euros, a que se juntam 200 mil euros pela cessão de exploração.

Na ata camarária, o empresário português Jorge Marques, 41 anos, residente em Luanda, Angola, “diretor e acionista único” da Green Innovations, é referido como sendo “CEO do grupo israelita Mitrelli” – um grupo empresarial fundado há 25 anos, com investimentos na Europa, África e Médio Oriente – levando a referências à compra do Biocant por parte do grupo israelita, o que Carlos Faro nega.

“Dizer que os Israelitas compram o Biocant não é verdade. É uma empresa que é detida por um português da diáspora, que é CEO [administrador executivo] de um grupo israelita, mas este grupo não está a investir diretamente, quem está a investir são os fundos que esta empresa tem disponíveis, a lógica é estas empresas gerarem dividendos que depois são reinvestidos”, disse à Lusa Carlos Faro.

Esta informação foi confirmada à Lusa por Fernando Ferreira, diretor de comunicação e imagem do grupo Mitrelli, que disse que o investimento “nada tem a ver” com o grupo israelita e que este “não tem qualquer investimento em Portugal”.

No entanto, Fernando Ferreira admite que a Green Innovations “é acionista” do grupo Mitrelli e Jorge Marques, engenheiro, seu administrador executivo para Angola: “Trata-se, no entanto, de entidades distintas”, afirma.

Carlos Faro, doutorado em bioquímica e vice-presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, dirigiu o Biocant até agosto de 2016 e irá voltar àquelas funções após a formalização da compra dos edifícios do parque de biotecnologia por parte do grupo Green Innovations, cuja escritura está agendada para o final do mês.

Adianta que o “universo de empresas” da Green Innovations inclui a Green Biotech, criada “para fazer o investimento em biotecnologia em Portugal”, e a Green Services Innovations, ligada à exploração de fosfatos no Congo, uma sociedade sediada nas Ilhas Virgens britânicas e que, em junho de 2017, de acordo com o jornal online Observador, apresentou uma proposta de compra de uma participação, no SIRESP que foi recusada.

“A Green Innovations é comum a todos, porque é a marca, e depois há ‘sub-holdings’ ou empresas especializadas para cada setor”, adianta Carlos Faro, defendendo a necessidade de investimento na biotecnologia em Portugal, um setor “que é uma promessa há muitos anos”.

“Tem gente qualificada, tem investigadores excecionais, tem boas publicações e boas patentes. Mas objetivamente ainda não teve um caso de sucesso até à data”, reconhece.

Um dos problemas, explica, deriva do nível de financiamento necessário “quando as empresas pretendem dar o salto”, para além do financiamento inicial. Terem ou não acesso a “dois ou três milhões de euros” é a diferença entre morrerem ou conseguirem sobreviver no mercado, argumenta.

Segundo Carlos Faro, foi aqui que apareceu a Green Innovations e Jorge Marques, que pretende, por um lado, investir em empresas de biotecnologia sediadas no Biocant e, por outro, ter a gestão do parque e do imobilizado – para a qual foi criada, em agosto de 2017, a empresa Cantadivser, detida pelo empresário português – ficando desse modo “associado a uma marca e uma plataforma identificada no setor da biotecnologia”.

“Vai investir na biotecnologia em Portugal, ocupar este espaço onde há uma lacuna clara [de investimento] e o parque [Biocant] pode crescer”, assevera.

Carlos Faro diz que atualmente existem no Biocant 35 empresas, uma dezena das quais deverão integrar investimentos futuros do grupo Green Innovations: “É um investimento de ‘portfolio’, investe em dez, mas sabe que o retorno do investimento global só virá, provavelmente, de duas ou três. Temos três empresas que se tiverem sucesso vão valer mais de 100 milhões de euros”, diz o especialista em biotecnologia.

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