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Há Bancos e bancos

Quando, em qualquer parte do mundo, se fala do Luxemburgo, um dos pontos que mais caracterizam o país é o elevado número de Bancos. Em Portugal, antes da minha vinda para cá, sempre que, em conversa, se falava do país para onde vinha, logo após a referência à grande comunidade portuguesa existente, qualquer pessoa mencionava essa questão. Se em relação ao primeiro aspeto bastam umas horas para o constatar, em relação ao segundo, será preciso mais algum tempo, mas irá chegar-se à mesma conclusão.

Depois de alguns dias a deambular pela cidade, se há algo que vai de acordo com as expectativas é que há muitos bancos. E são mesmo muitos. Por vezes, estão seguidos, noutras intercalados. Na maioria dos casos, estão em lugares estratégicos, mas também os há em sítios que ninguém os espera. No Luxemburgo, se é uma pessoa de idade, tem um banco para si. Se é uma criança que ainda está ao cuidado dos pais, pois bem, existe um banco à sua medida. Por outro lado, um casal jovem a começar uma vida, perfeito! Irá igualmente encontrar um banco apropriado. Aqui, ninguém fica sem banco e, ao contrário de noutros sítios, estes, parecem bem seguros.

No meu caso, apesar de ter chegado há pouco, já experimentei vários. Em alguns prolonguei-me durante bastante tempo e até regressei. Noutros, estive só de passagem. Aproveitei mesmo a qualidade de outros e acabei por almoçar por lá. Continuo sem saber se o podia fazer ou não, mas não era o único e, tal como quando somos crianças, se mais alguém faz, então, estou desculpado. Por momentos, acusava-me de falta de curiosidade. Estava numa cidade onde nunca tinha estado e, mesmo assim, a perder tempo com bancos. Mas o tempo, tal como o dinheiro que temos nos Bancos, não se pode considerar perdido quando bem investido.

Mesmo tendo em conta ainda me faltarem visitar bastantes, já tenho alguns na minha lista de preferências. Desde logo, qualquer um daqueles na praça Clairefontaine. Aqui, é o local ideal para quem gosta de correr risco moderado e para quem aprecie um almoço tardio em dias de sol. Por seu turno, para momentos em que prefiro o certo pelo incerto, gostei bastante de optar por um no Parque próximo da ponte Adolphe. Calmo, com alguma diversidade, mas controlada por nós. Em contrapartida, em dias de correr riscos, qualquer um daqueles na praça Guillaume II, parece perfeito. Neste local, nunca se sabe muito bem o que irá acontecer. Tanto pode ser um mercado de flores, como uma pista de gelo ou um concerto. Se, eventualmente, não for do nosso agrado, basta levantar e escolher outro local e, acredite, terá outro logo ao virar da esquina.

Por esta altura, já deve estar desconfiado de que o que se trata aqui não é de Bancos comerciais. Se estava à espera de grandes considerações sobre movimentações de dinheiro ou de uma eloquente dissertação acerca do sistema bancário luxemburguês, peço desculpa pelo aviso tardio, mas não será para já. Neste texto, refiro-me mesmo a bancos reais, daqueles para sentar.

De facto, existem muitos sítios onde apreciar a cidade. Porque é isso mesmo que tem de se fazer na Cidade do Luxemburgo. Nesta cidade, não se pode apenas ver, tem de se apreciar. De preferência, lentamente. Aliás, como em algumas cidades se vai proibindo o trânsito, aqui, devia-se proibir pessoas com pressa no centro histórico. Exceção feita, evidentemente, a quem vai correr para o Vale do Pétrusse.

Nesta cidade, senti-me obrigado a acalmar, como se cada banco fosse um incentivo para parar e desfrutar do que nos rodeia. Talvez pelo facto de viajar sozinho, acedi facilmente e de diversas vezes a esse convite tentador. No fundo, já posso dizer que aprendi algo no Luxemburgo. Até aqui chegar, conhecia todas as cidades sempre de um lado para o outro, sempre com a ânsia de passar em mais algum sítio. Até então, a visita era mais similar a uma coleção de cromos do que à visualização de um filme, ou à leitura de um livro. E que errado eu estava! No Luxemburgo, é nos pedido que, confortavelmente, apreciemos o desenrolar da ação, não que participemos nela.

Como comecei por referir no início, associa-se rapidamente o Luxemburgo a Bancos e, por consequência, a finanças, somas e subtrações. Mas, não poderia existir maior ironia do que, através da mesma palavra, ser demonstrado que o Luxemburgo não é apenas a frieza dos números e transações. Seja num banco de jardim, no meio de uma praça ou debruçado sobre a zona baixa da cidade, aí, descobre-se o seu coração, a sua classe e o seu charme e, mais do que isso, entra-se na sua alma. Que grande alívio foi descobrir que, até a cidade da objetividade e da ciência exata, tem também espaço para a rebeldia da reflexão e para a liberdade de ver o tempo passar.

Porque, na verdade, se o tempo fosse dinheiro, estaria depositado no Banco.

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