De que está à procura ?

Colunistas

Guerra dos tachos

“Voto a voto roubam os candidatos o povo”

Livro dos Avisos

PRÓLOGO

– Devíamos regressar – insistiu Valentim quando viu a conta da luz para pagar. – A democracia está morta. Taxas, taxinhas, rendas e rendinhas, raio do Mexia!

– Os democratas assustam-te? – perguntou Isaltino com um sorriso à presidiário.

– Um democrata é um democrata – disse – nada temos a temer com estes betinhos das jotas que nem limpar o rabo sabem.

– É verdade? Não sabem mesmo limpar o rabo? – perguntou Isaltino com curiosidade. – Que prova temos disso?

– Ó homem, o cheiro a excremento que largam por onde passam não te é prova suficiente?

– Então vamos tomar banho para mostrar ao povo que somos diferentes! – propôs Isaltino.

– É isso mesmo! Lavadinhos somos como novos! – concordou Valentim.

REI DOS TACHOS

– Quem quer tachos e tachinhos? Ó freguês, ó freguesa, seis pelo preço de um! É aproveitar que estão a acabar! – gritava a bons pulmões o Rei dos Tachos na Feira de Carcavelos.

A fila para os tachos parecia não terminar: gente conhecida e desconhecida, de todos os espectros políticos, da esquerda à direita, dos republicanos aos monárquicos, dos conservadores aos liberais, todos queriam o seu tachinho, pois o Inverno aproximava-se e havia que zelar pela sobrevivência das famílias e, para isso, nada melhor do que um belo tacho! Ora acontece que quando o stock dos tachos começava a chegar ao fim, aí sim, é que era bonito de se ver, todos engalfinhados uns nos outros, sem respeitar sequer a lei que concede prioridade às senhoras grávidas, cidadãos idosos com problemas de locomoção e cidadãos portadores de deficiência. Se preciso fosse até arrancavam olhos por um precioso tacho!

Até que, um dia, o Rei dos Tachos se lembrou de disciplinar a entrega dos tachos com um sistema baseado em votos: entregaria os seus tachos apenas aos cidadãos que recolhessem mais votos junto do povo e ponto final. Assim evitavam-se escaramuças como aquela em que a tia Miquelina apanhou com um tacho com tanta força na cabeça que acordou no hospital a jurar a pés juntos que era dona de um bordel. Um autêntico escândalo, principalmente porque era ela o braço direito do padre lá da paróquia.

Surgiram logo imensos candidatos – homens e mulheres comuns – com propostas e promessas dispostas a convencer o povo. A maioria dos candidatos, além do saneamento básico, construiu inúmeras rotundas para aí colocar os seus cartazes eleitorais, o que não deixa de ser paradoxal, pois numa rotunda anda-se à roda, à roda, à roda e não se chega à lado nenhum, tais como as propostas e promessas expostas nesses mesmos cartazes…

Contudo, além dos candidatos comuns, surgiram uma espécie de candidatos que se pensavam extintos há muitos milhões de anos: os dinossauros. Os candidatos dinossauros permaneceram dentro de ovos de dinossaura durante milhões de anos e só quando lhes cheirou a tacho é que começou o processo de chocagem dos ovos, contando para isso com a ajuda dos partidos, os quais funcionaram como chocadeiras artificiais. Os dinossauros têm poderes sobrenaturais e resistem a tudo: vis acusações, prisões, velhice, expulsões do partido, difamações, tudo mesmo! Um dinossauro autárquico deixa a sua marca por milhões e milhões de anos, tais são os mamarrachos que deixa na paisagem urbana. Alguns exemplos destes exemplares: Valentisaurus Gondomarus, Isaltisaurus Oeirus, Narcisaurus Matosinhus, Ribausaurus Aveirus e muitos mais.

Claro que os dinossauros esmagavam sempre tudo e todos. Eram os recordistas no arrepanhar tachos: para si, para a sua família, para os seus amigos. Até os utilizavam para troca de favores, coisa muito útil a quem ocupa cargos públicos. Com tantos tachos só me admira que as televisões ainda não tenham criado um programa de culinária, tipo “MasterChef-Tacho”, onde o principal desafio seria ver quantos tachos ao lume é que um candidato consegue gerir ao mesmo tempo.

EPÍLOGO

O queimado parecia não ter fim. Medina conhecia tão bem os tachos como qualquer outra pessoa e, ainda assim, deixou-os queimar. Seria falta de experiência? – pensou para si próprio. Talvez. Medina estava mais habituado a cozinhar na Bimby. Tachos não eram a sua praia, era mais com o aparelho do partido. Quem sabe Assunção Cristas não seja a mulher ideal para Lisboa? – pensou novamente para com os seus botões. Ela até tem todo o aspecto de quem lida bem com tachos. – continuou a pensar até ficar muito cansadinho.

Entretanto o fumo denso do queimado dos tachos de Medina já chegara ao Porto.

– Que fumaça é esta, penso eu de que? – perguntou Pinto da Costa a Sérgio Conceição.

– Devem ser o Aboubakar e o Layún que estão a festejar os golos, senhor Presidente!

– Ah bom, então está bem! Também posso festejar com eles?

Nesse instante, já Rui Moreira tossia a bom tossir nos Paços do Concelho:

– Cof, cof, cof… Raios partam este fumo! Devem ser os mouros que estão a arder!

– Senhor Presidente, estamos empatados nas sondagens, por isso é que está com tanta tosse – disse Pizarro em tom de puro gozo.

– Cale-se homem, são os mouros que nos estão a atacar! Devíamo-nos unir antes que tomem a nossa cidade.

– Desde que eu fique em primeiro na lista. – retorquiu Pizarro.

– Que venham os mouros! – Berrou desesperado Rui Moreira!

E viveram infelizes até às próximas eleições…

Daniel Luís

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA