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Falar grosso

Há 10 meses, na Madeira, António Costa sumariou num comício as razões pelas quais os portugueses deveriam votar no PS. “O Governo PSD/CDS não conseguiu conter a dívida pública, nem soube fazer crescer a economia (…)”.

Não era verdade. O Governo da coligação recebera do PS em 2011 o país em recessão. E nas legislativas de 2015 entregava para balanço a economia a crescer, o desemprego a descer, as exportações a aumentar, a produção industrial a subir, o turismo a disparar, os fundos comunitários executados acima da média europeia e claro, o fim da intervenção externa da troika, concluído o programa de ajustamento que Pedro Silva Pereira, mandatado por José Sócrates, negociara quatro anos antes.

Tido isto em conta, seria suposto que ao menos a recuperação da soberania económica e financeira de Portugal valesse elogio, ou silêncio que fosse. Acontece que para António Costa, mesmo contra factos, há argumentos. A verdade é um conceito relativo. E em modo “soundbite” rematou:

“A troika só acaba quando este Governo acabar”.

Vem o esforço de memória a propósito de quê?

A dívida pública aumentou 2,8 % entre janeiro e maio deste ano, o dobro do crescimento da economia (incipiente). Traduzido em números, foram mais 6,2 mil milhões de euros, num acumulado que estabeleceu novo recorde. E durante estes meses, a geringonça governou sozinha.

Que é feito da conversa sobre quem não consegue conter a dívida pública, nem sabe fazer crescer a economia? Pois…

E onde para a “Agenda para a década”, carregadinha de táticas e frases impressionantes, que faziam óbvio o que só o PSD e o CDS não viam, apresentada por António Costa no final de 2014? Quem recorda a antecipação do que seria a leitura inteligente e flexível das regras de disciplina orçamental de modo a potenciar a sua lógica contracílica e a abrir espaço para o investimento estratégico; ou a política monetária do BCE, expressa numa reduzida taxa de juro nos empréstimos ao setor financeiro, que teria de se comunicar à economia real; ou a prometida canalização de fundos privados, usando a CGD ou o Banco de Fomento, para dar resposta a empresas descapitalizadas e sem capitais próprios para investir? Tudo fácil…

Já agora, alguém sabe por onde anda o PS que ia falar grosso na Europa?

O Ecofin decidiu por unanimidade (e absurdo) que Portugal deverá ser sancionado por incumprimento das metas do défice. Significa que este PS, que diz falar grosso, não foi capaz de convencer um único Governo socialista europeu, sequer, a decidir de forma contrária. Nenhum. Zero.

O que faria se falasse fininho.

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