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Era o que mais faltava

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Sancionar Portugal pela violação da meta de 3% do défice em 2015 seria uma enormidade e uma indecência que abonaria pouco da Comissão Europeia. A começar, sem a circunstância do Banif, o défice teria ficado contido nesse valor, ou quanto muito, residualmente acima.

Depois, argumentar-se que Portugal não fez um “esforço suficiente” – expressão apurada pelo EurActiv – chega a ser insultuoso.

Em 2010, com José Sócrates a primeiro-ministro, o défice atingira o recorde absoluto de – 11,2% do PIB.

E em 17 de maio de 2011, negado o crédito dos mercados, Portugal subscreveu com a troika um “memorando de entendimento”, que pela austeridade antecipava nas previsões de todas as entidades um inevitável impacto recessivo.

Apesar disso, nos anos seguintes Portugal fez da recessão crescimento, as exportações dispararam, a balança comercial equilibrou-se, o desemprego baixou, o turismo deu cartas, os fundos comunitários executaram-se acima da média europeia e após os primeiros testes positivos, com financiamentos a juros baixos em todos os prazos, a intervenção externa da troika cessou em 17 de maio de 2014. Não se reeditaram resgates, nem foram precisos programas cautelares.

Foi assim, porque empresários, trabalhadores, pensionistas, funcionários públicos, um povo inteiro, sacrificou-se para que Portugal recuperasse a soberania económica e financeira.

O esforço do país, mais do que suficiente, foi hercúleo. A Comissão Europeia só tem de o reconhecer.

Bem sabemos que pelo caminho os socialistas ascenderam ao poder. Os compromissos do Estado foram revertidos em série, a extrema-esquerda que recusa o euro e gravita entre o “não pagamos” e as exigências de renegociação da dívida serve de parceiro na governação e Alexis Tsipras foi assumido por António Costa como aliado estratégico, apesar do descalabro do Syriza à frente dos destinos da Grécia. É verdade. Mas isso não invalida tudo o resto.

Mais um ano para atingir o objetivo, é o mínimo que Portugal merecia.

O comissário dos Assuntos Económicos Pierre Moscovici recordou, talvez, que foi ministro das Finanças sob presidência do socialista François Hollande. O desempenho no cargo não serviu de exemplo. Ainda assim, quando a Comissão Europeia exigiu da França um défice abaixo dos 3%, Pierre Moscovici exigiu mais tempo e Bruxelas cedeu.

Na altura, em 2013, ficou para a história o comentário do ministro francês:

“En Europe, l”austérité c”est fini, le sérieux ça continue”.

Querer menos para Portugal, do que reclamou para a França, seria simplesmente absurdo.

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