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Emigração portuguesa teve resultados positivos, afirma Eduardo Lourenço

O ensaísta e filósofo Eduardo Lourenço considerou que a emigração portuguesa foi uma emigração com resultados positivos, embora também tenha tido custos.

“Não haverá emigrações com sucesso garantido, mas a nossa foi, na medida do possível, uma emigração que teve resultados positivos, embora com custos naturalmente”, apontou.

Eduardo Lourenço falava, no Fundão, no encerramento dos colóquios “Labirintos da Memória”, que se realizaram naquela cidade, entre quinta-feira e hoje, e durante os quais a temática da emigração esteve em análise.

Convidado especial da iniciativa promovida pela Câmara Municipal do Fundão, Eduardo Lourenço fez questão de lembrar que não é especialista em emigração e que nem ele próprio se considera emigrante, mas partilhou a sua visão sobre o que foi a emigração portuguesa, principalmente da década de 60.

“Uma emigração de sangue, suor e lágrimas, mas que, ao fim e ao cabo, foi uma emigração com sentido e que deu sentido a tantas gerações, a tantas vidas e a tantos portugueses”, disse.

Durante a intervenção, Eduardo Lourenço apontou algumas das mudanças provocadas por esse “fenómeno complexo” e que alterou não só os próprios emigrantes, como os países de acolhimento e Portugal.

Dos emigrantes destacou, por exemplo, a “metamorfose” e da qual considerou terem sido as mulheres o principal motor, por terem “manifestado melhor capacidade de adaptação” e por terem sido “as primeiras a perceber a mudança de paradigma”.

“Foram elas as primeiras a perceber que o destino da emigração não era outro que não fosse o de passarem para um patamar melhor, que na época ainda nem sabiam qual era”, fundamentou.

Como resultado, “hoje, ao fim de tantos anos, a paisagem francesa está cheia de nomes portugueses e de filhos de portugueses em situações [boas] que de outra forma não teriam conseguido alcançar”, referiu, sustentando ainda que a emigração portuguesa nunca colocou problemas, “pelo menos graves”, para os países de acolhimento.

Lembrou igualmente que “há um Portugal filho desta aventura”, que modificou os que partiam e os que ficavam.

“Os que cá ficavam primeiro viviam muito preocupados com a desgraça dos que iam viver para fora. Depois, pouco a pouco, foram assistindo, já com algum espantado, ao regresso desses portugueses que já vinham diferentes e que já eram outros”, acrescentou.

Uma emigração que também acabou por ter consequências positivas, na hora em que Portugal passou a ser um país de imigrantes.

“Parece-me que o reflexo positivo que houve aqui relativamente aos imigrantes, nomeadamente de países de leste, se prende com esta aceitação e conhecimento do que era a vida dos nossos emigrantes”, lembrou.

Além da intervenção de Eduardo Lourenço, esta sessão de encerramento dos colóquios “Labirintos da Memória” ficou ainda marcada pelo tributo que a Câmara do Fundão – promotora da iniciativa – prestou ao filósofo, tendo-lhe atribuído a medalha de ouro da cidade.

A autarquia também prestou tributo a Abílio Laceiras, emigrante em França de origem fundanense, e a Maria Beatriz Rocha Trindade, professora catedrática e investigadora na área da investigação.

(Fotografia: José Cesário/Facebook)

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