Há hoje vinte e quatro anos que A. Garibáldi, poeta felgueirense, nascido em Braga, pereceu. Viveu mais de cinquenta anos em Felgueiras que muito amou e tão bem cantou, como se pode ver no poema infra..
A vinte de Agosto de 1992 A. Garibáldi, no dealbar da madrugada, feneceu enquanto compunha a sua Gazeta de Felgueiras que fundou depois de dirigir cerca de vinte anos o Jornal de Felgueiras.
Tivemos o privilégio de ser seu amigo e com ele privar, sendo mesmo visita da casa.
O respeito e a memória persistem intensos e e intocáveis.
Falta, por isso, um ano para se poder ter acesso ao seu espólio particular e intimista.
Aguardamos com imensa ansiedade o dia. Queremos conhecer ainda mais, A. Garibáldi, com toda a certeza material importante e nobre. Nobre como foi Garibáldi, tal como já escrevemos imensas vezes.
Fica aqui “Lembrança Lírica de Felgueiras” edição de 1969. Edição limitada que não surgiu nos circuitos comerciais; antes por oferta a amigos.
Mário Adão Magalhães
Lembrança Lírica para Felgueiras
Felgueiras assemelha-se a um presépio:
O seu Monte encastoa-se de casas
Que miram sobranceiras toda a vila,
Na paisagem tranquila.
Na Luz de azul e oiro esvoaçam asas…
*
– Ai, a luz de Felgueiras, que deslumbra!
Tem maciezas para os nossos olhos,
E os fulgores
Esperam pelo génio dos pintores!
*
– Pintores, onde estais vós, que não pintais
Esta luz de oiro, transparente e fresca,
Onde se despejou, como caudais,
A gama pinturesca?
*
Quando vou pela vila, e me enamoro
Desta paisagem que amorosa a enlaça,
Sinto no coração eflúvios de ouro,
Como se fôra um mundo em plena graça.
*
E as almas tão gentis que me saúdam!
A cada um estendo a minha mão:
Os humildes, os bons, os que levam n`alma
Todo o calor que dá o coração.
*
Gosto de vós, ó simples que passais!
A vila, a região, conserva ainda
Alguns dos seus costumes patriarcais.
Térrinha obreira, sossegada e linda!
*
Harpas, e rosas, e luar, e rezas,
Cobrindo as redondezas,
A voz dos sinos, que do Monte vem,
Traz harmonias dúlcidas, que lembram
Um mundo irreal e célico, de além!…
– Vela por nós, Santa Quitéria! Amén!…
A. Garibáldi, 1969