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(Des)Maio de 68

O ano de 1968 foi um ano cheio de actividades para os jovens franceses e também para todos os jovens que, mesmo não sendo franceses, gostavam de andar à pancada e de fumar umas cenas maradas. A juventude mundial lutou por novos pensamentos, por um novo estilo de vida, por novas alucinações, por sexo sem restrições, por novas e ousadas macacadas, por uma nova sociedade, pelo fim da anquilosada ordem social. Diz-se que muitos destes jovens eram maoístas, precisamente porque foi em Maio que se desencadearam os principais acontecimentos que haveriam de transformar o mundo, pelo menos em termos culturais (note-se que à época, o conceito de “cultura” incluía basicamente as drogas e o sexo). Se estes acontecimentos tivessem ocorrido em Junho, teríamos tido jovens junhoístas. Estes jovens criticavam o capitalismo selvagem e a sociedade de consumo e passados 50 anos, vê-se que a sua luta valeu bem a pena: hoje em dia o capitalismo já não é selvagem porque está já domesticado pelos grandes grupos económicos; sociedade de consumo??? Isso era antigamente! Actualmentetemos, isso sim, uma sociedade de superhipermega-consumo. Como vemos, o Maio de 68 foi um sucesso em todas as suas frentes e propósitos! 

Mas como teve início o Maio de 68? Ao contrário da lógica do calendário gregoriano, o Maio de 68 não começou no dia 1 e nem terminou no dia 31. Já em inícios de 1968, altura em que a guerra do Vietname começou a correr mal aos americanos, se multiplicavam os movimentos pacifistas entre a juventude ianque, adeptos da filosofia Flower Power. Mas regressemos a França, palco oficial dos acontecimentos de Maio de 68… já que foi aqui que o movimento anti-autoritário teve o seu apogeu. Pode-se dizer, com mediana segurança, que o Maio de 68 nasceu na Universidade de Paris, depois de ter sido proibido de nascer numa maternidade parisiense, por ordem de De Gaulle. Nessa altura era frequente nascer-se em pleno Campus Universitário, já que muitas das grávidas eram jovens estudantes em busca da liberdade sexual. A contestação de Maio em Paris, começou efectivamente no dia 3 de Maio, quando a Universidade de Nanterre foi encerrada pelo Reitor, depois dos estudantes terem ocupado os serviços administrativos em protesto contra a prisão de activistas anti-guerra do Vietname e contra a repressão sexual de que eram vítimas. Imagine o leitor que os rapazes não podiam aceder aos dormitórios das raparigas, pelo que eram obrigados a recorrer a pensões baratas para aí realizarem os seus encontros íntimos. A alternativa era a abstinência sexual, o que causava enormes dificuldades de concentração. Uma tremenda injustiça!

Em Portugal o Maio de 68 só chegou em 69, com a crise estudantil iniciada em Coimbra. Sim! Os estudantes de Coimbra também ansiavam pelo amor livre! Então pensaram… pensaram… e chegaram à conclusão de que se se tratava de reivindicar o amor livre e de colocar o mundo ao contrário, então talvez 69 fosse o ano mais indicado para a revolta.  

Todos os anos, chegados a Maio, somos possuídos pelo espírito do Maio de 68 e começamos a contestar e a criticar, a torto e a direito, os sistemas e as organizações de poder. Penso que foi este mesmo espírito que invadiu Bob Geldof numa conferência que deu em Lisboa num mês de Maio dehá uns anos atrás, promovida pelo BES (quando Salgado ainda era o “ai Jesus” da banca portuguesa), levando-o a dizer que “Angola é gerida por criminosos”. Pelos vistos, Bob Geldof passou de l’enfant sale para l’enfant terribleConforme bem sabemos, o governo de Angola preocupa-se bastante em proporcionar bem-estar social e económico aos cidadãos angolanos. Pena é que só um grupo muito restrito de angolanos tenha efectivamente o estatuto de “cidadãos”. E, pelos vistos, não era só Angola que era gerida por criminosos. Curiosamente, o BES, imediatamente a seguir à polémica declaração de Geldof, tratou logo de emitir um comunicado a demarcar-se da posição do cantor. Pois claro: um ladrão nunca acusa o seu cúmplice!

À guisa de conclusão, penso que o Maio de 68 não foi mais do que uma faustosa rave cheia de ideais psicadélico-utópicos e que apenas produziu um mero (des)maio momentâneo dos tradicionais e hegemónicos valores sociais, culturais e económicos que, dia após dia, se fortalecem e nos dominam de forma impiedosa, rumo à instauração do pensamento único sem ideologia nem sonhos. O cinzentismo, o respeitinho e o politicamente correctotêm sido as notas dominantes deste início de século XXI. E tudo em nome dos poderosíssimos interesses económicos e das organizações políticas e de poder que com eles compactuam, interesses e organizações que, pela forma como são geridosfazem corar de vergonha até organizações mafiosas como a Camorra Siciliana (veja-se o recente caso do BES e do padrinho Salgado ou de Sócrates e do seu amigo Santos Silva)E quem teve o atrevimento decriticar Sócrates e o seu séquito, tramou-se bem tramado! Afinal a liberdade de expressão só existe para podermos dizer bem das ineficazes instituições do Estado e dos deprimentes e azêmolas personagens políticos que nos (des)governam???
Enfim, este já ardeu! Resta-nos esperar pelo próximo Maio de 68. Afinal, já só faltam 50 anos!

 

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