Os Deolinda editam, na próxima semana, um novo álbum, “Outras histórias”, que convoca várias matrizes musicais, fruto de influências de cada um dos músicos, sem perder a “centelha” de há dez anos, como contaram em entrevista à agência Lusa.
“Outras histórias” é o quarto disco de originais dos Deolinda e, apesar de ter sido descrito como um álbum de continuidade, em relação ao antecessor, “Mundo pequenino” (2013), é também de abertura à experimentação.
“Além da matriz [da música popular] portuguesa, há outras matrizes que também trabalhámos, porque as canções o pediram, porque as nossas influências sempre estiveram lá e porque a cultura portuguesa sempre foi de se abrir às influências e ao mundo, e de trazer outras coisas para ela e de as tornar suas, essa também é a nossa postura: Como é que podemos transformar tudo isto que ouvimos e nos influencia em Deolinda”, afirmou a vocalista, Ana Bacalhau.
O novo álbum, a editar no dia 19, conta com a participação de Manel Cruz, dos Ornatos Violeta, num dueto com Ana Bacalhau, em “Desavindos”, e de Riot, dos Buraka Som Sistema, na música “A velha e o DJ”.
Como convidados surge ainda a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo, com os arranjos para cordas assinados por Filipe Melo.
Sobre o alinhamento, os quatro músicos convocam a música popular portuguesa, a bossa nova, a pop e até um ambiente que remete para o ‘grunge’, disseram. As letras, assinadas por Pedro Silva Martins, guitarrista, continuam a ter uma marca distintiva de ironia, humor, subtileza e acutilância.
“São canções diferentes, mas têm esta visão comum, que é tambem de Deolinda, mas foi difícil arranjar uma linha que unisse as canções, até para lhes dar um título”, explicou Pedro Silva Martins.
O irmão, Luís José Martins, também guitarrista, acrescenta: “São histórias que só podiam ser da Deolinda de 2016 e, nesse sentido, acabam por ser uns retratos e crónicas do Portugal de hoje. Se calhar não as cantaríamos em 2008, nem as de 2008 hoje”.
É preciso recuar a 2005 para ver nascer os Deolinda, embora só em 2006 os irmãos Martins tenham trabalhado a sério nas canções com a prima Ana Bacalhau e como o contrabaixista José Pedro Leitão, ambos dos Lupanar.
O quarteto sabe que os primeiros concertos foram em 2006, ou seja, Deolinda cumpre agora dez anos.
Pedro Silva Martins diz que foi como ter dado um mergulho, voltar à tona e perceber que passou uma década.
Nessa década, os Deolinda receberam prémios, discos de ouro de platina, fizeram digressões internacionais e apuraram uma identidade em cerca de 50 canções, que se reconhece aos primeiros acordes e quando Ana Bacalhau começa a cantar, defendeu Pedro Silva Martins.
“Alterando um de nós já não soa a Deolinda. É a soma das personalidades e a forma como entendemos a música em conjunto, isso faz a Deolinda”, resumiu José Pedro Leitão.
Em dez anos, subsiste o que Ana Bacalhau descreveu como “aquela centelha inicial”, “não é muito definível, mas é audível”.
A digressão de “Outras histórias” começará em Famalicão, com dois concertos na Casa das Artes, nos dias 26 e 27 deste mês, e deverá ocupar o quarteto, em Portugal e no estrangeiro, até ao final do ano.