De que está à procura ?

Colunistas

Da gratuitidade

Há uns anos, convencida que os tostes sobrantes poderiam pagar uma oficina de artes nas férias do meu filho, visitei e aprecei uma na minha rua. A artista com que falei, entusiasticamente, sobre o papel das artes plásticas na educação das criancinhas, às tantas lamentou-se e proclamou que, por ela, todo o acesso à arte seria gratuito ao que eu retorqui perguntando “E trabalharia de graça para tal?”.

Lembro que ficou confundida como se não lhe tivesse passado pela cabeça semelhante, como se a gratuitidade de um serviço não tivesse de ser pago sempre por alguém, mas sem nunca admitir que a gratuitidade do seu serviço de artista pudesse ser “de origem”, “oferecido” por ela própria, “ora essa! que também tem de comer”. Claro, e nem me passava pela cabeça mantê-la em regime de dieta.

O que preocupa é a facilidade com que muitas cabeças vocalizam a bondade da gratuitidade de determinados serviços e de como estes se tornam intocáveis, a saúde, a cultura, a educação.

Resumindo, nem ela estava disposta a uma borla para a minha criancinha nem os meus tostes sobrantes cobriam o luxo de uma oficina de artes nas férias e ficámo-nos pela conversa.

Poucos meses depois constatei que outros como eu não podiam suportar aquele luxo no bairro e a oficina fechou.

A moral podia ser: é fácil desfilar na avenida com cartazes mas a tinta é cara.

Esta publicação é da responsabilidade exclusiva do seu autor.

TÓPICOS

Siga-nos e receba as notícias do BOM DIA